Cuba sofreu, nesta sexta-feira (18), uma queda total do sistema elétrico devido à inoperância de sua principal usina termelétrica, informou o ministério de Minas e Energia, em um contexto de "emergência energética" no país.
— O sistema ficou sem energia em todo o país — disse Lázaro Guerra, diretor-geral de Eletricidade do Ministério de Minas e Energia à TV estatal.
Na quinta-feira (17), o governo anunciou, entre outras medidas, a suspensão das atividades de trabalho do setor estatal para enfrentar a crise, que nas últimas semanas deixou a população de várias províncias até 20 horas sem luz em um único dia.
Guerra informou que quando a termelétrica saiu de serviço, "o sistema colapsou, ou seja, está em zero total", e que o governo trabalha para restabelecer a energia o mais rapidamente possível.
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse em sua conta no X que "não haverá descanso até seu restabelecimento (da energia)" e que o governo dá "absoluta prioridade à atenção e solução desta contingência energética de alta sensibilidade".
Na quinta-feira (17), Díaz-Canel usou a mesma rede social para destacar que a ilha enfrenta uma "emergência energética" por problemas para adquirir combustível para abastecer seu sistema de energia, devido ao acirramento do embargo que Washington impõe à ilha desde 1962.
As ruas de Havana estavam praticamente vazias nesta sexta-feira (18), sem transporte público, com pouco trânsito e semáforos inoperantes. Alguns estabelecimentos privados estavam abertos. As autoridades locais indicaram que apenas hospitais e fábricas de alimentos permaneceriam funcionando.
As aulas foram suspensas em todo o país até segunda-feira (21), e boates e locais de lazer permanecerão fechados em diversos pontos da cidade.
— Isso é uma aberração — disse à AFP Eloy Font, um aposentado de 80 anos que vive em Centro Havana.
— Isso demonstra a fragilidade do nosso sistema elétrico, estão atrás dos problemas, não há reserva, não há como manter este país, estamos vivendo dia após dia — lamentou.
Os cubanos sofrem há três meses com os indesejados apagões, que se tornaram cada vez mais prolongados e frequentes, com um déficit de cobertura nacional de 30% em muitos dias. Um déficit de quase 50% foi registrado na quinta-feira, irritando a população.
Bárbara López, criadora de conteúdo digital de 47 anos, disse que não conseguiu fazer nada.
— Faz dois dias que mal consegui trabalhar e agora isso, o que faço? É terrível viver assim, em 47 anos nunca vi nada pior. Agora sim, acabaram com tudo... sem luz e sem dados móveis — exclamou.
As autoridades informaram na quinta-feira que o setor privado, que surgiu em Cuba a partir de 2021, se tornou um importante consumidor de energia e que estabelecerão mecanismos de controle também para esta atividade.
Setor estatal paralisado
Diante desta situação, o primeiro-ministro Manuel Marrero anunciou a paralisação de todas as atividades de trabalho estatais que não forem indispensáveis a fim de priorizar o abastecimento para as famílias.
Na ilha, a energia elétrica é gerada através de oito termelétricas antigas que, em alguns casos, apresentam avarias ou estão em manutenção, além de sete plantas flutuantes — que o governo arrenda de empresas turcas — e grupos eletrogêneos (geradores).
Toda esta infraestrutura requer, em sua maioria, combustível para funcionar.
Cuba atravessa sua pior crise em três décadas, com falta de alimentos, remédios e apagões crônicos que limitam o desenvolvimento das atividades produtivas.
Os apagões foram um dos fatores desencadeadores das históricas manifestações de 11 de julho de 2021, que deixaram um morto, dezenas de feridos e centenas de detidos.
De acordo com a imprensa independente local, dezenas de pessoas se manifestaram no início da semana nas províncias de Sancti Spíritus (centro) e Holguín (nordeste) devido aos apagões prolongados.
Em 2023, a ilha se recuperou dos cortes de eletricidade diários que sofreu durante quase todo o ano de 2022.
O mais crítico ocorreu em outubro daquele ano, com um apagão generalizado na noite de 27 setembro, após a passagem do furacão Ian, que atingiu o oeste do país.