O aborto irá às urnas em diversos lugares dos Estados Unidos no mês que vem, mas, somente no estado de Nebraska, os eleitores terão a possibilidade de escolher entre duas propostas concorrentes, em meio a acusações de trapaça entre democratas e republicanos.
Os eleitores desse estado do Meio Oeste, onde a interrupção da gravidez é permitida durante as primeiras 12 semanas de gestação, escolherão em 5 de novembro, em paralelo às eleições presidenciais, se emendam a Constituição local para incluir a prática do aborto.
Por um lado, um referendo apoiado pela direita propõe ratificar o status quo, consagrando as disposições existentes na lei fundamental do estado.
Por outro, um texto apoiado pelos democratas quer que a Constituição garanta o direito ao aborto até a viabilidade do feto, ou seja, entre as 22 e 24 semanas.
Como essas duas propostas não podem coexistir, se ambas forem aprovadas, ganhará a que receber mais votos.
"É confuso", disse Jean Hanson, uma contadora de 63 anos que vive em Omaha. "Acredito que ou muita gente votará em ambas, o que contradiz o objetivo, ou terminarão votando na opção errada".
Os impulsionadores dessas iniciativas recolheram com sobras as assinaturas necessárias para submetê-las a referendo.
Durante esse processo, no entanto, dezenas de moradores declararam à imprensa local que foram enganados.
"Houve confusão", admite o senador republicano do estado, Merv Riepe, à AFP.
No dia da eleição, os eleitores terão que ler com cuidado as chamadas Iniciativas 434 e 439 em suas cédulas para estarem seguros de que não estão apoiando a opção incorreta.
John Cavanaugh, senador democrata, acredita que os conservadores apresentaram sua proposta "como uma maneira de causar confusão e dificultar a aprovação da outra opção".
Contudo, para o deputado republicano Don Banco, os democratas "enfeitaram e exageram" nessas acusações para seu próprio benefício político. "São uns trapaceiros", disse à AFP.
- "Inferno" -
O aborto, questão que divide os americanos, se tornou um dos principais temas da campanha para as presidenciais de novembro.
O candidato republicano, Donald Trump, se gaba com frequência de ter nomeado os juízes da Suprema Corte que eliminaram a proteção federal a esse direito em 2022.
Os democratas, liderados por Kamala Harris, esperam atrair o voto dos contrários à proibição dessa prática.
Segundo as pesquisas, a maioria dos americanos defende que haja pelo menos um marco legal para o procedimento.
Desde que a Suprema Corte deixou de reconhecer esse direito a nível federal, pelo menos 20 estados impuseram restrições ao aborto, entre eles Nebraska, onde o tema é especialmente complexo e espinhoso.
Quando o senador Riepe bloqueou, no ano passado, uma proibição ao aborto depois da sexta semana de gravidez, recebeu mensagens de ódio, teve que ser escoltado por guardas armados e foi censurado por seus colegas republicanos.
"Não gostaram do meu voto. E eu disse 'Ok, não me importa se vocês gostam'", explica.
Um senador de seu partido lhe "enviou um texto no qual dizia que iria às profundidades mais quentes do inferno. Mas somos amigos de novo", acrescenta Riepe.
Depois Riepe redigiu a vigente lei de doze semanas (período de tempo que escolheu baseando-se em nações como Alemanha e Itália), mas agora apoia um projeto de lei que permite o acesso ao aborto até as 20 semanas em casos como quando feto tem alguma condição fatal.
O debate desse texto foi adiado de forma indefinida pelo Congresso de Nebraska.
Riepe disse que "tomará distância" das duas propostas submetidas à votação em novembro. "As duas partes distorcem um pouco".
* AFP