O papa Francisco fez um apelo nesta quinta-feira (12) por proteção à "dignidade dos trabalhadores migrantes", e a quem deve ser garantido um "salário justo", em um discurso para as autoridades de Singapura, última escala de sua longa viagem pela Ásia e Oceania.
— Faço votos de que seja dada especial atenção aos pobres e aos idosos cujo trabalho lançou as bases da Singapura de hoje, como para proteger a dignidade dos trabalhadores migrantes, que tanto contribuem para a construção da sociedade e a quem deve ser garantido um salário justo — afirmou o pontífice argentino.
A etapa de 48 horas em Singapura, uma cidade-Estado de 6 milhões de habitantes, é a última em sua longa viagem pela região Ásia-Pacífico, que começou na Indonésia, e pretende estimular o crescimento da Igreja Católica no continente asiático.
Singapura tem 300 mil trabalhadores migrantes, a maioria procedentes de Bangladesh, Índia ou China, que em troca de baixos salários contribuíram para construção dos imponentes arranha-céus e infraestruturas da cidade.
Várias ONGs denunciaram o tratamento reservado das autoridades aos migrantes e pedem melhores condições de vida para o grupo.
Um porta-voz do Ministério do Trabalho reagiu, afirmando que as condições de trabalho melhoraram ao longo dos anos, bem como a fiscalização sobre os contratos trabalhistas e outras medidas. Acrescentou ainda que o mercado determina os salários.
— Os salários em Singapura são determinados pelas leis do mercado e não impomos qualquer salário mínimo aos trabalhadores de Singapura, sejam locais ou estrangeiros — declarou.
Desde sua eleição em 2013, o Papa argentino se posiciona como o fervoroso defensor dos direitos dos migrantes e refugiados.
— Estou muito feliz que o Papa tenha escolhido falar sobre este tema. Mesmo que não aumentem o meu salário, ao menos estou feliz em saber que o Papa luta e reza por nós. Ele realmente tem um coração para os pobres — disse à AFP uma trabalhadora doméstica filipina, 34 anos, que não revelou o nome porque não tinha permissão de seu empregador.
A mulher filipina revelou ainda que ganha cerca de 600 dólares de Singapura (US$ 460). Um valor que contrasta com a renda bruta média no país, 5.190 dólares de Singapura (US$ 3.985), segundo os dados de 2023 do Ministério do Trabalho.
"Papa que une"
No final do dia, o Papa presidiu missa no SportsHub, o estádio nacional da cidade, para 50 mil fiéis, alguns procedentes de países vizinhos como Índia, Vietnã, Hong Kong e Mianmar.
Francisco chegou ao estádio em um carrinho de golfe. Ele acenou e abençoou a multidão, em um ambiente tranquilo. Também ofereceu rosários às crianças, deu autógrafos e tirou selfies.
— Francisco se preocupa mais com a humanidade e com o meio ambiente em geral. Eu o vejo como um Papa que une as pessoas — disse à AFP Bena Onyaco, uma filipina que vive em Singapura há 20 anos, que vestia uma camisa com a frase "I love papa Francisco" ("Eu amo o papa Francisco", do inglês).
Na manhã desta quinta-feira, o Papa de 87 anos foi recebido oficialmente no Parlamento, assim como pelo presidente Tharman Shanmugaratnam e o primeiro-ministro Lawrence Wong. Francisco recebeu uma orquídea branca com o seu nome, a flor símbolo do país.
No seu discurso, o pontífice destacou a importância de uma sociedade baseada na "justiça social" e "bem comum". Ele pediu aos líderes políticos que trabalhem na "melhoria das condições de vida dos cidadãos com políticas sobre a habitação pública, uma educação de elevada qualidade e um sistema de saúde eficiente".
Singapura, um Estado independente desde 1965, é um dos países mais desenvolvidos da Ásia, em razão da indústria e tecnologia.
A maioria da população da ilha tropical é chinesa, mas também possui importantes minorias malaias, indianas e de outros países. Os cristãos representam 19% da população, de maioria budista.
O Papa não mencionou as frequentes críticas ao país na área dos direitos humanos e do rigor de seu sistema judicial, que ainda aplica a pena de morte.
Apesar dos problemas de saúde e do ritmo intenso da viagem, a mais longa de seu pontificado, o líder da Igreja Católica demonstrou boa forma durante a viagem, desafiando as incertezas sobre sua capacidade para suportar a jornada.