Edmundo González Urrutia, adversário do presidente Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela, afirmou nesta quarta-feira (18) que assinou sob "coação" um documento para "acatar" uma decisão judicial que validou a reeleição do governante esquerdista, o que permitiu a sua partida para o exílio na Espanha.
González Urrutia publicou em redes sociais uma mensagem de esclarecimento após a divulgação da carta, assinada pelo opositor e pelo presidente do Parlamento, o dirigente chavista Jorge Rodríguez, que a apresentou em coletiva de imprensa em Caracas.
"Sempre estive e continuarei disposto a reconhecer e acatar as decisões tomadas pelos órgãos de justiça dentro do marco da Constituição, incluindo a referida sentença da Sala Eleitoral (do Tribunal Supremo de Justiça), que, embora eu não compartilhe, acato, por se tratar de uma resolução do máximo tribunal da República", diz o texto, que continha um compromisso de "confidencialidade" das partes.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor para um terceiro mandato consecutivo de seis anos, o que foi validado pelo TSJ. Ambas as instituições são acusadas de servirem ao chavismo.
— O regime pretende que todos os venezuelanos percam a esperança— disse González, que denunciou uma fraude e reivindicou sua vitória no pleito de 28 de julho, em vídeo publicado após a divulgação da carta.
González Urrutia ressaltou que "um documento produzido sob coação é viciado de nulidade absoluta, por vício grave de consentimento".
— Estando na residência do embaixador da Espanha, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e a vice-presidente da República, Delcy Rodríguez, apresentaram-se com um documento que eu teria que ratificar para permitir a minha saída do país. Em outras palavras, ou eu assinava, ou me atinha às consequências. Considerei que poderia ser mais útil livre do que preso — disse González.
O opositor, que é alvo de mandado de prisão na Venezuela, passou um mês na clandestinidade antes de pedir asilo na Espanha, onde chegou em 8 de setembro.
"Ele nos procurou"
Jorge Rodríguez mostrou fotografias do momento da assinatura do documento na residência do embaixador da Espanha, onde ele e a vice-presidente Delcy Rodríguez estiveram presentes. Também divulgou um vídeo que mostra a saída de González Urrutia em um avião da Força Aérea espanhola no dia 7 de setembro.
— Ele nos procurou — afirmou Rodríguez. — Aqui não houve nenhum tipo de medida, nenhum tipo de situação em que o senhor Edmundo González Urrutia pudesse se sentir violentado. Muito pelo contrário, ele nos procurou — acrescentou.
Rodríguez deu 24 horas a González Urrutia para se retratar ou revelará gravações com "bastidores" das negociações.
— A conversa de forma alguma foi marcada pela coação ou pressão — insitiu.
Segundo a carta, subscrita também por uma testemunha não identificada, González expressou sua intenção de deixar a Venezuela "para que se consolide a pacificação e o diálogo político", e se comprometeu a ter uma atividade pública "limitada" no exílio.
"Com o propósito de contribuir para alcançar esse clima de convivência e tranquilidade que todos desejamos, comprometo-me a manter a devida prudência, moderação e respeito em minha atuação no âmbito público", diz o texto. "Não pretendo, em nenhum caso, exercer representação formal ou informal de quaisquer poderes públicos".
O opositor disse na Espanha que continuaria "a luta" pela "recuperação da democracia na Venezuela", embora tenha moderado o tom posteriormente e chamado ao diálogo. Seu advogado havia afirmado há 10 dias à rede de TV CNN que o cliente "não assinou documento algum reconhecendo os resultados eleitorais".
O Senado espanhol pediu nesta quarta ao governo do socialista Pedro Sánchez que reconheça González Urrutia como vencedor das eleições. O Congresso dos Deputados havia feito a mesma solicitação no dia 11 de setembro.
— Não nos importamos — reagiu Jorge Rodríguez, que anunciou que o Parlamento venezuelano vai aprovar uma resolução pedindo a Maduro que rompa relações diplomáticas, consultivas e comerciais com a Espanha.
A líder opositora María Corina Machado agradeceu aos senadores da Espanha "por se colocarem do lado do povo".