Donald Trump volta ao cenário político nesta segunda-feira (15), como a estrela da Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, onde deve ser anunciado oficialmente como candidato do partido para a eleição presidencial de novembro.
O ex-presidente dos Estados Unidos disse no domingo (14) ser um milagre estar vivo depois de ser vítima de um atentado durante comício em Butler, Pensilvânia, no dia anterior. Ele concedeu sua primeira entrevista ao jornal New York Post a bordo de seu avião particular a caminho de Milwaukee.
— O médico no hospital disse que nunca viu nada parecido, ele chamou de milagre. Eu não deveria estar aqui, eu deveria estar morto — declarou.
O ex-presidente acrescentou que o médico do hospital local disse a ele que nunca viu alguém sobreviver após ser atingido por um AR-15.
Segundo o jornal, que não teve autorização para fazer fotos do ex-presidente, Trump estava usando uma bandagem branca grande e solta que cobria sua orelha direita, atingida pelos disparos.
O atirador, identificado como Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, disparou várias vezes de um telhado com um fuzil AR-15, antes de ser "neutralizado" por agentes do Serviço Secreto dos Estados Unidos. Lembrado como um homem quieto e solitário, ele não tinha histórico de problemas mentais, nem demonstrava firmes convicções políticas em postagens nas redes sociais. O FBI afirma que ele agiu sozinho e investiga a motivação do crime.
Ainda de acordo com o jornal, Trump disse que estaria morto se não tivesse virado levemente a cabeça para a direita para ler um gráfico sobre imigrantes irregulares. Naquele instante, o tiro arrancou um pequeno pedaço da sua orelha e espirrou sangue na sua testa e bochecha.
Ele acrescentou que enquanto os agentes do Serviço Secreto o levavam para fora do palco, ele ainda queria continuar falando com os apoiadores, mas os agentes disseram que não era seguro e que eles tinham que levá-lo para o hospital. O ex-presidente elogiou a atuação dos agentes antes de desabotoar sua camisa para mostrar um grande hematoma no seu antebraço direito, ilustra a publicação.
— Os agentes me empurraram tão forte que meus sapatos caíram, e meus sapatos são apertados — disse com um sorriso.
O ex-presidente também comentou sobre a foto tirada instantes depois que o tiro atingiu a sua orelha:
— Muitas pessoas dizem que é a foto mais icônica que já viram. Elas estão certas e eu não morri. Geralmente você tem que morrer para ter uma foto icônica.
O republicano disse que o episódio o fez mudar seu discurso já escrito para a próxima quinta-feira (18), quando ele deve receber oficialmente a indicação do partido para ser candidato à presidência novamente.
— Eu tinha preparado um discurso extremamente duro, realmente bom, todo sobre a administração corrupta e horrível. Mas joguei fora. Eu quero tentar unir nosso país. Mas eu não sei se isso é possível. As pessoas estão muito divididas.
Investigação
O Serviço Secreto dos EUA está investigando como o atirador, armado com um fuzil estilo AR, conseguiu chegar ao telhado nas proximidades e ferir o ex-presidente.
O atirador, que segundo oficiais foi morto pelos agentes do Serviço Secreto, disparou múltiplos tiros em direção ao palco de uma "posição elevada fora do local do comício", disse a agência. Trump foi ferido e um espectador foi morto.
Uma análise da Associated Press de mais de uma dúzia de vídeos e fotos tiradas durante o comício de Trump, bem como imagens de satélite do local, mostra que o atirador conseguiu chegar surpreendentemente perto do palco onde o ex-presidente estava falando.
O telhado ficava a menos de 150 metros de onde Trump estava. O presidente Joe Biden pediu uma investigação independente da segurança no comício.
De acordo com as primeiras informações, Thomas Matthew Crooks era funcionário de uma casa de repouso nos subúrbios de Pittsburgh e um republicano registrado que colocou explosivos no veículo que dirigiu até o comício a uma hora de distancia da sua casa.
As autoridades consideram o caso uma tentativa de assassinato contra Trump, mas ainda não determinaram a motivação do atirador.
O FBI ainda não identificou qualquer ideologia subjacente, escrita ameaçadora ou posts em mídias sociais de Crooks, que não tinha casos criminais anteriores contra ele, de acordo com registros judiciais públicos. O FBI acredita que ele agiu sozinho e o ataque está sendo investigado como um potencial ato de terrorismo domestico.
Além de Trump, a Polícia Estadual da Pensilvânia identificou outros dois homens que foram baleados como David Dutch, 57, de New Kensington, e James Copenhaver, 74, de Moon Township. Ambos permaneceram hospitalizados e estão em condição estável, disse a polícia estadual.
Corey Comperatore, 50, um ex-chefe de bombeiros, morreu no atentado ao se jogar para proteger a sua família, informou o governador Josh Shapiro "Corey morreu como um herói", disse o governador.
No último sábado (15), Trump sofreu um atentado enquanto participava de um comício, em Butler, Pensilvânia, onde foi atingido na orelha direita. Duas pessoas morreram, incluindo o atirador, e outras duas ficaram feridas.
Durante a convenção, que vai até quinta-feira (18), 50 mil apoiadores republicanos devem acompanhar a reunião de quatro dias, que ocorre às margens do Lago Michigan.
Vários apoiadores do ex-presidente em Milwaukee expressaram o desejo de unidade e de fim da troca de insultos entre republicanos e democratas.
Os republicanos atribuem o ataque a uma retórica anti-Trump "exagerada", enquanto aumentam os receios de intensificação da violência política em um país que é considerado por muitas nações como uma democracia exemplar.
O ex-presidente de 78 anos é a esperança republicana para derrotar o presidente democrata, Joe Biden, e retornar à Casa Branca.
O republicano é líder nas pesquisas, apesar de seus problemas jurídicos e de uma condenação. Por outro lado, o atual presidente, Joe Biden, de 81 anos, recebe apelos de integrantes do próprio partido para abandonar a disputa eleitoral, devido a um declínio em suas capacidades cognitivas.
Elogio ao serviço secreto
Trump disse que se salvou por virar um pouco à direita para ler um gráfico sobre migração, razão pela qual o tiro o atingiu na orelha.
Na oportunidade, Trump aproveitou para parabenizar o trabalho do serviço secreto, responsável pela segurança presidencial, e o atirador de elite que eliminou o atirador com um tiro "entre os olhos".
O presidente Biden declarou no domingo que "não há espaço para este tipo de violência nos Estados Unidos" e pediu "união" ao país.
Reforço na segurança
Para a próxima convenção, as áreas que serão utilizadas serão protegidas pela polícia e pelo serviço secreto, com grandes barreiras metálicas nas ruas para restringir o trânsito.
— Estamos totalmente preparados e temos um plano de segurança integral. Estamos prontos para começar — disse Audrey Gibson-Cicchino, agente especial assistente do Serviço Secreto.
Campanha política
Grande parte da convenção foi concebida à imagem de Trump, com seu slogan de campanha "Make America Great Again" e imagens do candidato, em uma demonstração de que ele está no controle.
O empresário designou pessoas de sua confiança para comandar o partido, incluindo sua nora Lara Trump como co-presidente do Comitê Nacional Republicano, afastando os dissidentes.
Depois da derrota para Biden nas eleições de 2020, Trump passou os últimos anos trabalhando para voltar ao poder, esmagando os rivais dentro do partido ou reunindo ex-adversários ao seu lado.
A ex-primeira-dama Melania Trump também estará na convenção, mas não há previsão de um discurso.
Os grandes temas da reunião incluem o poder aquisitivo, a imigração, a criminalidade e a segurança do país.
Indicação para vice-presidente
Ainda nesta segunda-feira, Trump pode anunciar o nome de seu candidato a vice-presidente, uma decisão que terá uma grande influência no restante da campanha.
Os favoritos na disputa para ser o companheiro de chapa de Trump devem discursar na convenção.
O ex-presidente parece inclinado por uma decisão entre dois senadores, J.D. Vance, de Ohio, o aparente favorito, e o cubano-americano Marco Rubio, da Flórida.
Outro nome na disputa é o governador da Dakota do Norte, Doug Burgum, que inicialmente concorreu contra Trump pela indicação presidencial, antes se alinhar ao empresário.
Independente de sua decisão, o senador democrata Michael Bennet admitiu na semana passada à imprensa que "Trump está no caminho para vencer as eleições, talvez por maioria esmagadora, e levar o Senado e a Câmara de Representantes".