A Sérvia está "disposta a discutir" e a chegar a "compromissos" na disputa com a sua antiga província do Kosovo, disse o primeiro-ministro sérvio, Milos Vucevic, à AFP nesta terça-feira (25), véspera de uma reunião entre o presidente de seu país e o primeiro-ministro do Kosovo.
O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, se reunirá na quarta-feira em Bruxelas com o chefe de governo kosovar, Albin Kurti, pela primeira vez em quase um ano.
"Compromissos significam que ninguém ganha ou perde completamente", disse Vucevic. "É melhor sentar, reunir-se, conversar, tentar conversar. Tudo em vez de uma escalada", acrescentou.
"As grandes nações, os grandes Estados, não são grandes por causa do seu território, mas pela sua responsabilidade na busca da paz e do compromisso", insistiu o premiê sérvio.
Sobre seu homólogo kosovar, Vucevic afirmou acreditar "que ele não quer que o diálogo tenha sucesso".
As tensões entre Sérvia e Kosovo não cessam desde o final dos anos 1990, quando as forças sérvias enfrentaram guerrilhas separatistas, em uma guerra que deixou milhares de mortos e provocou uma intervenção armada da Otan contra Belgrado.
O Kosovo declarou sua independência em 2008, mas a Sérvia nunca reconheceu a separação desse território de 1,8 milhão de habitantes, a grande maioria de etnia albanesa.
A independência não foi reconhecida até agora por China, Rússia nem por cinco membros da União Europeia (Espanha, Romênia, Chipre, Grécia e Eslováquia), entre cerca de 30 países.
- Armas -
Desde que assumiu o cargo em maio, Vucevic tenta encontrar um equilíbrio delicado que permita à Sérvia abrir negociações para aderir à União Europeia e permanecer equidistante entre o leste e o oeste.
Um dos obstáculos para ingressar no bloco europeu é a manutenção dos laços amigáveis entre Sérvia e Rússia.
Em uma entrevista publicada recentemente pelo Financial Times, o presidente Vucic reconheceu que a Sérvia vendeu munições a países ocidentais que provavelmente foram enviadas à Ucrânia para ajudar as tropas de Kiev contra a ofensiva de Moscou.
No entanto, Vucevic insistiu que esta "não é uma contribuição sérvia para um dos beligerantes".
A Sérvia depende há anos do apoio da Rússia e da China para impedir que a ONU reconheça Kosovo como um Estado independente.
Belgrado condenou na ONU a invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, mas se recusou a aderir às sanções contra Moscou, que fornece ainda 90% do gás utilizado no país.
- Lítio -
Em sua entrevista à AFP, Milos Vucevic também se referiu ao controverso projeto de exploração de uma mina de lítio no oeste da Sérvia, que provocou protestos maciços que levaram à suspensão do projeto.
Se o governo finalmente der seu acordo, o gigante anglo-australiano da mineração Rio Tinto, proprietário do terreno, poderá extrair até 58.000 toneladas de lítio por ano em Jadar, perto da fronteira com a Bósnia.
A mineração é "um dos pilares da criação do nosso Estado, e não vejo por que não deveria ser no futuro", declarou o primeiro-ministro.
O lítio é um metal leve essencial para a fabricação de baterias de veículos elétricos, celulares e diversos artigos eletrônicos.
"Se a Sérvia possui tal potencial econômico, interessante para todo o continente europeu, então pode ser um ponto de virada não apenas econômico, mas também político", especialmente com vistas à integração na UE, afirmou Vucevic.
Diante da preocupação com o impacto ambiental, assegurou que a Sérvia "não é uma colônia" e que "ninguém virá saquear seus recursos naturais", mas que o governo nunca permitirá que "ninguém destrua os rios, campos, florestas e montanhas" do país balcânico.
* AFP