Um manuscrito completo do famoso livro "O Estrangeiro", do escritor francês Albert Camus, será leiloado nesta quarta-feira (5) em Paris, cercado de mistério por ser considerado posterior à publicação do livro.
Este exemplar excepcional, colocado à venda pela casa de leilões Tajan, está avaliado entre 500.000 e 800.000 euros (entre 2,8 milhões e 4,5 milhões de reais).
Albert Camus, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1957, intrigou o mundo editorial francês após a sua morte com o aparecimento deste manuscrito de 104 páginas, escrito inteiramente com sua própria caligrafia e encadernado em couro preto.
"Sua história e datação precisa são misteriosas", sublinha a casa de leilões na apresentação do lote.
Camus termina o manuscrito inscrevendo uma data provavelmente falsa, "abril de 1940".
"The Estrangeiro" foi de fato escrito naquela época em Paris e corrigido até setembro de 1941, antes de ser publicado pela editora Gallimard em maio de 1942.
Mas os especialistas de Camus estimam que este manuscrito seja de um tipo particular, porque dataria de 1944, segundo depoimento da esposa do autor, Francine Camus, e outros indícios.
Provavelmente em julho daquele ano, Albert Camus teria produzido, para um bibliófilo, e com certo gosto pelo detalhe, um manuscrito com a aparência daqueles que costumam preceder a publicação de um romance.
Algumas passagens estão "cobertas de rasuras, notas nas entrelinhas e nas margens, todas pontilhadas com setas e referências", detalha a casa Tajan.
"Camus compõe 14 esboços nas margens, que às vezes parecem piadas escondidas", acrescenta seu comunicado.
O escritor, durante a Paris ocupada, subsistia com poucos recursos. E não se sabe o nome do primeiro comprador.
Esta peça de alto valor já foi objeto de dois leilões, em 1958 e 1991. Desde essa data, pertence a um colecionador cujo nome permanece em segredo.
"O Estrangeiro", inicialmente impresso em 4.400 exemplares, tornou-se um best-seller e mais tarde um dos clássicos da literatura francesa, com vendas milionárias.
A trama gira em torno de um jovem funcionário de escritório argelino, Meursault, que conta como assassinou uma vítima árabe cujo nome nunca é mencionado, por razões confusas.
* AFP