Tanques israelenses cercaram o maior hospital de Gaza nesta terça-feira (14). O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pressionou o aliado para que proteja os milhares de civis bloqueados no centro médico, que Israel considera um esconderijo estratégico de Hamas.
Após dias de bombardeios e combates nos arredores do hospital Al Shifa da cidade de Gaza, testemunhas afirmam que tanques e veículos armados estão nas entradas do complexo cercado, que se tornou um dos centros da guerra que começou há mais de cinco semanas.
A ONU acredita que há milhares de pessoas dentro do hospital, um número que pode superar 10 mil, entre pacientes, funcionários e deslocados, que não conseguem deixar o local devido aos combates.
Ao menos 179 corpos foram enterrados nesta terça-feira (14) em uma "vala comum" no hospital Al Shifa, informou o diretor do centro médico, Mohamad Abu Salmiya, que mencionou sete bebês prematuros que morreram devido à falta de energia elétrica.
— Nos vimos obrigados a enterrá-los em uma vala comum — disse Abu Salmiya. — Há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as áreas refrigeradas do necrotério não têm energia elétrica — acrescentou.
Um cirurgião da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse que a situação no hospital é "desumana". Comunicado da ONG afirmou não ter "energia elétrica, comida e água no hospital".
O Exército israelense acusa o movimento terrorista de usar uma rede de túneis sob o hospital como um "nódulo" de comando, transformando pacientes e refugiados em "escudos humanos", o que o Hamas nega.
Biden fez um apelo a Israel para adotar "ações menos intrusivas em relação ao hospital". "O hospital deve ser protegido", insistiu à imprensa no Salão Oval da Casa Branca.
Um porta-voz do Exército israelense, Peter Lerner, reiterou nesta terça-feira que Al Shifa era "central nas capacidades de comando e controle do Hamas", mas disse que as tropas estavam de prontidão.
— A ideia é tentar retirar as pessoas, retirar o maior número possível — declarou.
Janela de legitimidade
Israel bombardeia a Faixa de Gaza sem trégua desde o ataque executado em seu território por combatentes do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro.
Em Israel, 1,2 mil pessoas morreram, sendo a maioria civis, e mais de 200 foram sequestradas.
Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirma que mais de 11,2 mil pessoas, incluindo 4.630 menores de idade, morreram na ofensiva de Israel no território cercado, que não tem acesso ao abastecimento de água, alimentos, energia elétrica ou medicamentos.
As agências da ONU e organizações internacionais mencionam centenas de milhares de pessoas deslocados e uma catástrofe humanitária.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Cohen, afirmou na segunda-feira (13) que o país ainda dispõe de "duas ou três semanas até que a pressão internacional aumente realmente", mas que sua pasta está "trabalhando para ampliar a janela de legitimidade".
— A luta continuará pelo tempo necessário — acrescentou Cohen, segundo um porta-voz.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que o Hamas "perdeu o controle de Gaza" e que seus combatentes estão "fugindo para o sul" do território.
Negociação pelos reféns
Diante da crescente pressão internacional, Israel aceitou estabelecer pausar diárias em suas operações militares ao redor de "corredores" humanitários para permitir a saída dos moradores de Gaza bloqueados pelos combates.
Mas o governo israelense insiste que não haverá um cessar-fogo mais amplo antes da libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas.
O governo do Catar atua como mediador nas negociações sobre os reféns.
Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, afirmou na segunda-feira que um possível acordo poderia implicar a libertação de 100 reféns israelenses em troca de 200 crianças e 75 mulheres palestinas detidas em prisões de Israel.
— Informamos aos mediadores que poderíamos libertar os reféns se conseguíssemos cinco dias de trégua (...) e a entrada de ajuda para toda nossa população — disse.
"Estamos usando todos os nossos recursos, tanto de inteligência como operacionais, para trazer os reféns para casa", afirmou o Exército israelense.