Por Nelson Asnis
Médico psiquiatra, psicanalista, doutor em Psicologia (PUCRS), pós-doutor em História (UFRGS). Professor e escritor
Ao longo de cerca de 10 anos me dediquei a um projeto de doutorado que estudou os homens-bomba palestinos. Para tanto, realizei viagens a quase todos os países do mundo islâmico (Irã, Egito e Catar por duas vezes, Turquia, Indonésia, Malásia, Maldivas, Bósnia, Emirados Árabes, Omã, Autoridade Palestina e, por três vezes, a Israel).
Esses estudos redundaram em minha tese de doutorado e no livro Homem Bomba, o Sacrifício das Pulsões (Buqui, 2013), nos quais relato entrevistas que realizei ao longo dessas viagens e, no Brasil, com seguidores do islamismo que chamei de tradicional (não extremista) e do islamismo fundamentalista.
Os islâmicos tradicionais procuram adaptar seus ensinamentos às sociedades em que vivem, contribuindo com as mesmas, interagindo pacificamente com outras correntes religiosas sem abrir mão dos princípios básicos do Islã. Já os islâmicos fundamentalistas (dos quais o Hamas é um dos principais representantes) tem as suas capacidades de reflexão e diálogo inviabilizadas. Possuem certezas absolutas de que sua forma (delirante) de pensar e agir é correta e plenamente justificada. Sem demostrar qualquer compaixão, conseguem matar e sequestrar civis, sejam eles idosos, crianças ou adultos indefesos, de forma covarde e com os mais tradicionais requintes de psicopatia e sadismo que nada diferem do Estado Islâmico (Isis).
Stern, em seu livro Terror em Nome de Deus (2004), demonstra que os próprios líderes do Hamas reconhecem que a pobreza e a desesperança aumentam o apoio a sua causa. Ao entrevistar o xeique Younis-al-Astal, um dos líderes do Hamas, a autora obteve dele a seguinte afirmativa:
– Dificuldades sempre trazem pessoas para Deus. O Islã nos diferencia porque prepara as pessoas para morrerem por Alá.
Lembremos que a taxa de desemprego na faixa de Gaza gira em torno de 40% dos adultos e que o Hamas lá governa sob a forma de uma cruel ditadura, contando com uma grande insatisfação de boa parte dos palestinos que lá residem.
Procurei estudar o Estatuto de Fundação do Hamas, tornado público em 1988 e no qual está descrito que “Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer”. É importante reforçar que o Hamas é um movimento terrorista não só anti-Israel, mas antissemita.
No capítulo 1 de seu estatuto, consta que “a hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por matá-los, e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: ‘Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o’”. Qualquer semelhança com o que vimos no massacre de mais de 260 jovens da festa rave e nas cidades israelenses próximas a Gaza na invasão terrorista do último dia 7 não é mera coincidência.
O Hamas está colocando em prática o seu estatuto. Trata-se da reedição nazista da “solução final”. Busca destruir Israel e matar judeus.
Existirá a possibilidade de negociar uma solução de dois Estados com uma entidade terrorista que prega a destruição de Israel e dos judeus?
E, por fim, uma intrigante e surpreendente constatação: a de que a maioria das vítimas da violência fundamentalista islâmica é, na verdade, constituída de outros muçulmanos (Demant, 2004). Buruma e Margalit (2006) reforçam o exposto, lembrando que foi derramado mais sangue muçulmano nas nações árabes por terroristas islâmicos fundamentalistas do que em todas as guerras contra israelenses.
O Hamas busca, com o atentado, que a contraofensiva de Israel destrua Gaza e mate inocentes civis palestinos colocados (junto com os reféns israelenses, barbaramente capturados) como escudos humanos em sua perversa e covarde tática.
Até quando o mundo civilizado fechará os olhos para a barbárie do grupo terrorista Hamas e a necessidade de acabar com ele?