Líderes árabes e ocidentais reunidos neste sábado (21) na Cúpula da Paz, no Cairo, pediram um cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, a entrega de ajuda maciça à Faixa de Gaza e uma solução definitiva para o conflito israelense-palestino, que já dura 75 anos.
O encontro, no entanto, terminou sem um comunicado conjunto, devido à falta de acordo entre os países árabes e ocidentais, informaram diplomatas árabes, no momento em que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, adverte que a Faixa de Gaza enfrenta "uma catástrofe humanitária".
Mais de 1,4 milpessoas morreram no ataque sem precedentes do Hamas contra Israel executado em 7 de outubro, segundo as autoridades israelenses. Cerca de 200 pessoas continuam sequestradas pelo grupo islamista palestino.
Quase 4,3 mil palestinos já morreram na Faixa de Gaza nos bombardeios diários israelenses em represália, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o enclave desde 2007.
Os representantes dos países ocidentais e árabes, no entanto, não conseguiram chegar a um acordo sobre um comunicado final, informaram diplomatas árabes à AFP. As negociações tropeçaram em dois pontos, segundo eles: os países árabes se negaram a assinar a "condenação clara ao Hamas" e "o pedido de libertação dos reféns" feito pelos ocidentais.
Dessa forma, a reunião de cúpula terminou com um comunicado da presidência egípcia que critica "uma comunidade internacional que mostrou, nas últimas décadas, sua incapacidade de encontrar uma solução justa e duradoura para a questão palestina".
Em resposta, Israel lamentou a falta de uma condenação do que chamou de "terrorismo islâmico". "É lamentável que, mesmo depois de ter que enfrentar essas atrocidades horríveis, haja quem tenha dificuldade de condenar o terrorismo ou reconhecer o perigo", criticou o Ministério das Relações Exteriores israelense.
No começo do encontro, Guterres havia pedido uma ação rápida para "acabar com o pesadelo". A Faixa de Gaza precisa de "uma entrega maciça de ajuda", insistiu, depois que 20 caminhões com assistência entraram no território palestino, procedentes do Egito, neste sábado.
A ONU calcula que são necessários ao menos cem caminhões diários para ajudar os 2,4 milhões de moradores de Gaza, que enfrentam a falta de água, energia elétrica e combustíveis.
Guterres discursou para políticos do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina, além de ministros das Relações Exteriores de países árabes e europeus, e dirigentes da Liga Árabe, da União Africana e da União Europeia. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, estava presente.
Rússia, China, Japão, Canadá e Estados Unidos também enviaram representantes, e Israel não participou do encontro
O rei Abdullah II, da Jordânia, pediu "um cessar-fogo imediato", e o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, insistiu no "direito dos palestinos de estabelecer seu Estado".
— Não podemos permitir que esse conflito se torne uma crise regional — declarou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, que governa na Cisjordânia, reiterou seu pedido pelo fim "da ocupação israelense dos territórios palestinos" e por uma solução de dois Estados.
— Não iremos embora das terras palestinas — repetiu três vezes Abbas, que ao lado do Egito e da Jordânia expressa oposição há vários dias à ordem israelense para que os habitantes do norte da Faixa de Gaza abandonem a área e prossigam para o Sul, na fronteira com o Egito.
Os líderes políticos da região consideram que este é um primeiro passo para um "deslocamento forçado" de palestinos em direção ao Sinai egípcio. Abbas afirmou que isto seria o equivalente a "uma segunda Nakba" (catástrofe em árabe), em referência à expulsão de quase 760 mil palestinos após a criação do Estado de Israel, em 1948.
Abdullah II criticou "o silêncio global", que considerou uma "mensagem muito perigosa":
— A mensagem que o mundo árabe recebe é alta e clara: as vidas palestinas importam menos do que as israelenses.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, denunciou "a ajuda militar incondicional a Israel, que serve apenas para manter a ocupação" dos Territórios Palestinos. Seu par saudita, Faisal bin Farhan, criticou a rejeição do Conselho de Segurança da ONU a duas resoluções que pediam o fim das hostilidades.
O Egito, que organizou a cúpula, quer desempenhar um papel diplomático importante no conflito. O país foi a primeira nação árabe a assinar um acordo de paz com Israel, em 1979, e desde então Cairo atua como mediador habitual entre Israel e os palestinos, incluindo o grupo Hamas. Além disso, o Egito tem o único ponto de entrada para a Faixa de Gaza que não é controlado por Israel, Rafah.