Um outsider herdeiro de um império de bananas foi eleito o novo presidente do Equador neste domingo (15). Conforme o Conselho Nacional Eleitoral, o empresário Daniel Noboa, de 35 anos, superou a advogada esquerdista Luisa González no segundo turno das eleições presidenciais.
Com 87% das urnas apuradas, Noboa já tinha 52% dos votos, contra 48% de González, segundo a autoridade eleitoral. A eleição ocorreu sem nenhum incidente grave. Após o fechamento do período de votação, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Diana Atamint, disse que um "compromisso interinstitucional da Polícia Nacional e das forças armadas" permitiu que as pessoas votassem com segurança.
Em agosto, um candidato à presidência foi assassinado em plena luz do dia. Fernando Villavicencio foi morto ao sair de um comício de campanha em Quito. A inquietação levou Noboa a acrescentar um colete à prova de balas ao traje diário. A eleição ocorre em um momento em que cada vez mais equatorianos se tornam vítimas da violência relacionada às drogas, que surgiu há cerca de três anos.
O novo presidente governará por apenas 15 meses, até maio de 2025, que é o que resta do mandato de Guillermo Lasso. Lasso abreviou seu mandato ao dissolver a Assembleia Nacional do país em maio, quando os legisladores instauraram um processo de impeachment contra ele por supostas impropriedades em um contrato de uma empresa estatal.
Lasso, um ex-banqueiro conservador, entrou em conflito constante com os legisladores após sua eleição em 2021 e decidiu não concorrer na eleição especial. No domingo, ele pediu aos equatorianos que tivessem uma eleição pacífica e pensassem no que é "melhor para seus filhos, seus pais e o país". Ele disse que os eleitores têm a sabedoria "para banir a demagogia e o autoritarismo enquanto olham para um amanhã de paz e bem-estar para todos".
Sob o comando de Lasso, as mortes violentas aumentaram, chegando a 4.600 em 2022, o maior número da história do país e o dobro do total em 2021. A Polícia Nacional registrou 3.568 mortes violentas no primeiro semestre de 2023. O aumento da violência está ligado ao tráfico de cocaína. Cartéis mexicanos, colombianos e dos Bálcãs criaram raízes no Equador e operam com a ajuda de gangues criminosas locais.
O voto é obrigatório no Equador para pessoas de 18 a 64 anos. Aqueles que não cumprirem com a obrigação poderão pagar uma multa de cerca de US$ 45. As urnas serão fechadas no final da tarde, e os resultados são esperados para a noite de domingo.
"Não espero muito dessa eleição", disse Julio Ricaurte, um engenheiro de 59 anos, no domingo, perto de um dos centros de votação no norte de Quito, a capital. "Primeiro, porque o presidente terá pouco tempo para fazer qualquer coisa e, segundo, porque a Assembleia (Nacional) em nosso país é uma organização que impede qualquer um que chegue ao poder de governar."
Noboa e González, ambos com curtos mandatos como legisladores, avançaram para o segundo turno ao terminarem à frente de seis outros candidatos no primeiro turno da eleição, em 22 de agosto. O substituto de Villavicencio terminou em terceiro lugar.
Noboa, de 35 anos, é herdeiro de uma fortuna construída com a principal cultura do Equador, a banana. O empresário começou com a carreira política em 2021, quando conquistou uma cadeira na Assembleia Nacional e presidiu a Comissão de Desenvolvimento Econômico. Ele abriu uma empresa de organização de eventos quando tinha 18 anos e depois entrou para a Noboa Corp. de seu pai, onde ocupou cargos de gerência nos setores de transporte, logística e comercial.
Um grande grupo de militares e policiais, além de seguranças particulares, protegeu Noboa quando ele votou em Olón, uma comunidade na costa central do Pacífico do país. Ele usava um colete à prova de balas. "Acredito que a tendência é irreversível, e hoje começamos a construir um novo Equador", disse ele, aludindo com confiança a uma vitória.
O comandante da Polícia Nacional, general César Zapata, disse no domingo que as autoridades investigaram duas denúncias de dispositivos explosivos nos arredores de Quito e as consideraram falsas. Ele também disse que 174 pessoas foram presas por violar a proibição da venda de bebidas alcoólicas no dia da eleição.
Rosa Amaguaña, uma vendedora de frutas e legumes de 62 anos, disse no domingo que a segurança "é a primeira coisa que deve ser resolvida" pelo próximo presidente. "Tenho esperança de que o país vai mudar", disse Amaguaña. "Sim, ele pode mudar. O próximo presidente deve ser capaz de fazer até mesmo algo pequeno."