O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a posição do Brasil contra o embargo dos Estados Unidos em relação a Cuba, classificando-o como ilegal. Para Lula, o país tem sido defensor de uma "governança global mais justa".
— O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo", disse o presidente, durante discurso na Cúpula do G77 + China, realizada em Havana neste sábado. "Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa. E até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal.
A Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprova todos os anos um texto denunciando os efeitos negativos da política americana e pedindo o fim do embargo - a medida não tem, porém, efeito vinculante. O Brasil se posicionava a favor da resolução desde que foi apresentada pela primeira vez, em 1992.
Nova ordem mundial
Lula pediu uma ordem mundial mais justa em relação aos países em desenvolvimento, diante dos debates sobre modelos de revolução digital e mudanças climáticas, e citou uma responsabilidade diferente se comparada aos países ricos. Na avaliação do brasileiro, países do Sul Global têm condições de ocupar a "vanguarda da ciência, tecnologia e inovação" e, para isso, é preciso união.
— Precisamos voltar a agir juntos, porque juntos seremos fortes, como já fizemos no passado", declarou, durante discurso na Cúpula do G77 + China, realizada em Havana, Cuba, neste sábado. "Devemos forjar uma visão comum que leve em consideração as preocupações dos países de renda baixa e média e de outros grupos mais vulneráveis.
Na fala, Lula citou duas transformações em curso no mundo que, segundo ele, "não podem ser moldadas por um punhado de economias ricas, reeditando a relação de dependência entre centro e periferia".
A primeira é a revolução. Lula criticou também o modelo de negócios das grandes empresas multinacionais de tecnologia. Segundo ele, as multinacionais do setor de tecnologia possuem modelos de negócios que acentuam a concentração de riquezas, desrespeitam as leis trabalhistas e, muitas vezes, alimentam violações de direitos humanos e fomentam o extremismo — afirmou o presidente, que chegou a Cuba na noite de sexta-feira (15).
— O projeto de Diretrizes Globais para a Regulamentação de Plataformas Digitais da Unesco equilibra a liberdade de expressão e o acesso à informação com a necessidade de coibir a disseminação de conteúdos que contrariem a lei ou ameacem a democracia e os direitos humanos— defendeu.
A segunda transformação em curso é a transição energética. Ao falar sobre a promoção de uma industrialização sustentável, Lula destacou que países em desenvolvimento não têm "a mesma dívida histórica dos países ricos pelo aquecimento global".
— O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, permanece válido. É por isso que o financiamento climático tem de ser assegurado a todos os países em desenvolvimento, segundo suas necessidades e prioridades— comentou.
O presidente assegurou o compromisso de que, na presidência do G20, o Brasil irá propor a criação de um Grupo de Trabalho voltado à ciência, tecnologia e inovação para alavancar os interesses dos países em desenvolvimento nesses campos.
Este ano, sob a presidência de Cuba, o encontro do G77 + China discute o tema Desafios Atuais do Desenvolvimento: Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação. O grupo, criado em 1964 com 77 países-membros, foi ampliado e atualmente é composto por 134 nações em desenvolvimento do Sul global pertencentes à Ásia, África e América Latina. A união do bloco com a China ocorreu nos anos 1990.
No discurso, Lula também defendeu o pacto global digital da Organização das Nações Unidas (ONU) e voltou a cobrar financiamento climático todos países em desenvolvimento.
Ainda em Havana, Lula cumprirá agenda de trabalho com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel. Esta é a primeira viagem oficial de um mandatário brasileiro ao país caribenho em nove anos. A última foi em 2014, quando a ex-presidente Dilma Rousseff esteve na capital cubana.
De Cuba para Nova York
De Havana, o presidente seguirá para Nova York, nos Estados Unidos, onde fará o primeiro discurso do debate geral de chefes de Estado da 78ª Assembleia Geral da ONU, na próxima terça-feira (19).
Será a oitava vez que o presidente Lula abrirá o debate geral dos chefes de Estado. Nos oito anos em que governou o Brasil, em seus dois primeiros mandatos, ele deixou de comparecer apenas em 2010.
Lula também participará do lançamento de uma iniciativa global para promoção do trabalho decente, juntamente com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Estão previstas ainda outras reuniões bilaterais, multilaterais e ministeriais entre os países participantes e diversos organismos internacionais à margem da assembleia.
Lula viajará aos Estados Unidos acompanhado de ministros que deverão participar de diversas reuniões temáticas nas áreas de direitos humanos, saúde e desarmamento.