Cerca de 6 bilhões de toneladas de areia marinha e outros sedimentos são extraídos dos oceanos todos os anos, disse a ONU nesta terça-feira (5), alertando sobre as graves consequências desta atividade sobre a biodiversidade e os recursos pesqueiros.
Esta é a primeira vez que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) consegue coletar esses dados por meio de Inteligência Artificial (IA).
Os especialistas utilizaram o sistema de identificação automática das embarcações – que permite sua localização – e depois programaram a IA para distinguir as embarcações que extraem areia, graças ao seu modo de deslocamento.
Os sinais emitidos pelos navios criam uma permissão.
— O acesso aos deslocamentos de todas os navios do planeta — disse à AFP o diretor do centro de análise de dados do Pnuma, Pascal Peduzzi, que depois desmembra os dados graças à IA.
A análise ainda está em fase inicial, e apenas 50% das embarcações são rastreadas. Mas a ONU estima que entre 4 bilhões e 8 bilhões de toneladas de areia marinha e outros sedimentos foram extraídos nos mares e oceanos a cada ano entre 2012 e 2019.
— Isso representa uma média de 6 bilhões de toneladas por ano, o que equivale a mais de 1 milhão de caminhões por dia — explicou Peduzzi.
A ONU espera publicar os números do período 2020-2023 este ano. Mas os dados mostram que esta atividade não para de crescer e "começa a tomar proporções gigantescas", acrescenta Peduzzi, lembrando que os rios transportam entre 10 e 16 bilhões de toneladas de sedimentos para os mares e oceanos todos os anos.
Os navios extratores são como "aspiradores" que "destroem o fundo do mar" e o "esterilizam", fazendo desaparecer os microrganismos oceânicos e colocando em perigo a biodiversidade e os recursos pesqueiros, observa o especialista.
Além da publicação dos números, a ONU espera dialogar com as empresas do setor para que sejam mais respeitosas com o meio ambiente, melhorando suas práticas de extração. Segundo as Nações Unidas, as práticas internacionais e os marcos regulamentares variam consideravelmente.
Alguns países – incluindo Indonésia, Tailândia, Malásia, Vietnã e Camboja – proibiram a exportação de areia marinha nos últimos 20 anos, enquanto outros não têm legislação, ou programas eficazes de monitoramento.
O Pnuma insta a comunidade internacional a estabelecer regulamentações internacionais para, entre outros pontos, melhorar as técnicas de dragagem. Também recomenda a proibição da extração de areia das praias, devido à importância para o litoral, o meio ambiente e a economia.
* AFP