O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson "enganou deliberadamente" o parlamento a respeito do "partygate", o escândalo das festas celebradas na residência oficial quando estava no poder durante os confinamentos determinados pela pandemia de covid-19, afirmam as conclusões de um comitê parlamentar.
O ex-líder conservador, que completará 59 anos na próxima semana, renunciou à cadeira de deputado na semana passada, depois de ser informado sobre as conclusões da investigação, que durou 14 meses, sobre as festas em Downing Street enquanto o restante do país estava confinado.
O Comitê de Privilégios, com sete membros e que examina as violações das regras parlamentares, determinou que Johnson "enganou deliberadamente a comissão e a Câmara" e que, se não tivesse renunciado ao posto de MP (Membro do Parlamento) na sexta-feira passada, teria sido suspenso por 90 dias por "desacatos repetidos e por tentar minar o processo parlamentar".
Com a renúncia, o ex-primeiro-ministro conservador evitou uma punição dos colegas da Câmara dos Comuns.
O relatório do comitê, que deve ser submetido à votação entre os deputados, pede que Johnson tenha o acesso vetado à sede do parlamento, um privilégio habitualmente reservado aos ex-primeiros-ministros.
Ao anunciar a renúncia, Johnson afirmou que havia recebido uma carta do comitê parlamentar e denunciou uma "armação política", apesar de a comissão de investigação ser integrada em sua maioria por membros de seu próprio partido.
Johnson insistiu nas críticas nesta quinta-feira. Ele chamou o comitê de "antidemocrático" e o acusou de ser "a facada final em um assassinato político prolongado".
"O comitê não encontrou uma única prova", afirmou Johnson, que, em um comunicado veemente, insiste que sua presença nas festas era uma questão "legal" exigida por seu trabalho.
O objetivo do comitê era determinar se Johnson mentiu de maneira intencional ao Parlamento quando afirmou que as restrições contra a pandemia de covid-19 haviam sido respeitadas durante as festas celebradas em Downing Street durante os confinamentos de 2020 e 2021.
"Um desacato grave"
O escândalo "partygate" explodiu depois da revelação de que Johnson e dezenas de funcionários de alto escalão foram multados por violar as normas de distanciamento social impostas pelo governo para a população. A revelação provocou indignação entre a opinião pública, em particular entre os parentes de pessoas que morreram vítimas da covid-19.
O escândalo foi o catalisador de várias polêmicas que obrigaram Johnson a renunciar em julho de 2022, encurralado pelo próprio partido. Mas o ex-premier conservou o cargo de deputado e seguiu com muita influência entre os conservadores.
Em março, Johnson prestou depoimento de mais de três horas ao comitê e afirmou, "com a mão no coração", que não mentiu ao parlamento.
Nas conclusões, o relatório destaca que "algumas das negações e explicações do Sr. Johnson foram tão pouco sinceras que, por sua própria natureza, foram tentativas deliberadas de enganar o comitê e a Câmara".
A investigação afirma ainda que, ao revelar detalhes de algumas das conclusões do relatório na semana passada, antes da publicação, Johnsom também incorreu em uma violação da confidencialidade, o que constitui "um desacato grave".
Johnson, que liderou a campanha pelo Brexit, chegou ao poder depois de comandar o partido em uma grande vitória eleitoral em 2019.