Os combates entre militares e paramilitares foram retomados neste domingo (11), em Cartum, após o término de uma trégua de 24 horas que deu um breve alívio aos habitantes após quase dois meses de conflito entre dois generais rivais no país africano.
O som dos disparos de artilharia e dos combates despertou os moradores da capital sudanesa, relataram várias testemunhas à AFP.
"É o retorno do terror", disse Asmaa al Rih, uma residente dos subúrbios do norte de Cartum, "com foguetes e obuses que fazem as paredes de casa tremerem" novamente.
Os confrontos recomeçaram dez minutos após o término de uma trégua de 24 horas negociada pela Arábia Saudita, que começou no sábado às 6h locais (1h em Brasília).
Esse cessar-fogo, que foi globalmente respeitado, de acordo com testemunhas, permitiu que os habitantes de Cartum se abastecessem, ou fugissem da capital.
Uma trégua de um dia é "como um sonho" que desaparece, lamentou Nasreddin Ahmed, um morador do sul de Cartum, que neste domingo "acordou com o som dos combates".
Foram ouvidos bombardeios de artilharia pesada em Cartum e em Omdurman, situada na outra margem do Nilo ante a capital.
Também foram registrados disparos de "vários tipos de armas" na rua Al Hawa, no sul da capital, assim como bombardeios na periferia leste, de acordo com os moradores.
O conflito começou em 15 de abril entre o Exército, liderado pelo general Abdel Fatah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), sob comando do general Mohamed Hamdan Daglo.
A guerra já deixou mais de 1.800 mortos, segundo a organização ACLED, especializada na coleta de informações em áreas de conflito. A ONU estima que existam dois milhões de deslocados.
Com o cessar-fogo deste fim de semana, os dois lados rivais se comprometeram a interromper a violência em todo o país para permitir a "chegada de ajuda humanitária", segundo o Ministério saudita das Relações Exteriores.
As tréguas anteriores foram violadas desde sua entrada em vigor.
- "Necessidades imensas" -
Atualmente, os combates se concentram em Cartum e na região de Darfur, no oeste do país.
Pelo quinto dia consecutivo, neste domingo, colunas de fumaça podiam ser vistas nos depósitos da instalação petrolífera Al Shajara, perto da fábrica militar de Yarmuk, em Cartum.
As ONGs alertam sobre a deterioração da situação humanitária.
"Apenas 20% dos estabelecimentos médicos estão funcionando em Cartum", lamentou na sexta-feira o chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Sudão, Alfonso Verdú Pérez.
"Nas últimas semanas, conseguimos entregar material cirúrgico para dez hospitais" na capital, "mas as necessidades são imensas, e ainda há muito a fazer", acrescentou, alertando também para a falta de água, eletricidade e comida.
Durante uma visita à Arábia Saudita nesta semana, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington e Riade querem "continuar sua sólida cooperação e pôr fim aos combates no Sudão".
O Egito, que faz fronteira com o Sudão, anunciou no sábado que vai endurecer o processo de ingresso em seu território para os sudaneses que fogem da guerra. Desde o início do conflito, mais de 200.000 sudaneses entraram no Egito, a maioria por via terrestre.
Essas medidas não buscam "impedir ou limitar o número de sudaneses que entram" no território egípcio, mas sim pôr fim às "atividades ilegais ou grupos do lado sudanês da fronteira que falsificam vistos de entrada", explicou o Ministério das Relações Exteriores do Egito.
Antes deste novo conflito, o Sudão já era um dos países mais pobres do mundo. Agora, depois de várias semanas de guerra, 25 dos 45 milhões de sudaneses não podem mais sobreviver sem assistência humanitária, informou a ONU.
* AFP