Vários ataques russos com mísseis e drones atingiram na madrugada desta sexta-feira (28) várias cidades da Ucrânia e provocaram pelo menos 16 mortes, poucas horas antes de Kiev anunciar que os preparativos para sua contraofensiva "estão chegando ao fim".
— Os preparativos estão chegando ao fim — afirmou o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, em referência à contraofensiva aguardada há vários meses para tentar retomar territórios ocupados pela Rússia no leste e sul do país. — O equipamento foi prometido, preparado e parcialmente entregue. Em um sentido amplo, estamos prontos — acrescentou, em entrevista coletiva em Kiev, ao falar sobre o envio de material pelos países ocidentais, o que inclui tanques, blindados e munições.
Os ataques em larga escala desta madrugada são os primeiros desde o início de março.
— O terror russo deve ter uma resposta adequada da Ucrânia e do mundo. E isso vai acontecer — afirmou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, após os ataques.
"Cada ataque deste tipo, cada ato maligno contra nosso país e nosso povo aproxima o Estado terrorista do fracasso e da punição", acrescentou Zelensky no Telegram.
Em Uman, uma cidade de 80 mil habitantes na região central do país, ao menos 14 pessoas morreram quando um míssil atingiu um prédio residencial, informou o ministério do Interior.
— Quero ver meus filhos, vivos ou mortos — disse Dmitri, um homem de 33 anos que mora no edifício atingido pelo ataque durante a madrugada. — Eles estão sob os escombros — acrescentou.
O ucraniano disse que é natural de Lugansk, uma área do leste do país sob controle russo.
— Eu vi muitas coisas, mas ainda não perdi meus filhos — disse.
Ataques contra Kiev e Dnipro
Em Dnipro, no centro-leste da Ucrânia, outro ataque deixou dois mortos, uma mulher e um menino de três anos, afirmou o prefeito Boris Filatov.
O exército ucraniano anunciou no Telegram que derrubou "21 mísseis de cruzeiro X-101/X-555 de um total de 23 e dois drones" no país.
O ataque com mísseis foi lançado "por volta das 4h00min" (22h de quinta-feira no Brasil), a partir de bombardeiros estratégicos russos do tipo Tu-95 localizados na área do Mar Cáspio, segundo as Forças Armadas.
Em Kiev, uma linha de energia elétrica foi cortada ao ser atingida por destroços que também provocaram o bloqueio de uma estrada, segundo as autoridades. A capital Kiev não era alvo de ataques com mísseis há mais de 50 dias.
Na localidade de Ukrainka, próxima da capital, os estilhaços de um míssil derrubado atingiram um edifício. Uma menina ficou ferida e foi hospitalizada, segundo o governador Ruslan Kravchenko.
A Rússia bombardeou de modo incessante as cidades ucranianas e a infraestrutura do país durante o inverno do hemisfério norte (verão no Brasil), mas o ritmo dos ataques diminuiu nos últimos meses.
Contraofensiva aguardada
A possibilidade de uma contraofensiva do exército ucraniano, apoiada pelos equipamentos enviados pelas potências ocidentais, significa que a guerra entrará em uma nova fase, mais de um ano após o início da invasão, em fevereiro de 2022.
A Ucrânia afirma há vários meses que pretende iniciar uma ofensiva decisiva para reverter o curso da invasão e libertar áreas sob controle russo, que representam quase 20% de seu território.
Ao mesmo tempo, a Rússia mobilizou centenas de milhares de reservistas para manter seus avanços territoriais no leste e no sul da Ucrânia. O Kremlin mantém o objetivo de conquistar a totalidade do Donbass, uma região conhecida por sua atividade industrial.
Os combates entre as tropas russas e os ucranianos estão concentrados no leste do país, onde acontece uma batalha violenta pelo controle da cidade de Bakhmut, que está praticamente destruída.
Apesar do apoio na linha de frente dos paramilitares do grupo russo Wagner, as tropas de Moscou não conseguiram conquistar a localidade, que vários analistas consideram não representar um interesse estratégico.
Para a Rússia, o objetivo em Bakhmut é exibir uma vitória, após várias derrotas humilhantes no segundo semestre do ano passado. A Ucrânia justifica o desgaste nesta batalha para limitar as possibilidades de avanço do exército russo na direção do Donbass.
O vice-primeiro-ministro russo Marat Khusnullin afirmou nesta sexta-feira que visitou Bakhmut e prometeu que a Rússia reconstruirá a localidade.