O ex-presidente americano Donald Trump advertiu simpatizantes que espera ser detido nesta terça-feira (21) — algo sem precedentes para um ex-presidente dos Estados Unidos - em um caso relacionado com o pagamento para comprar o silêncio de uma atriz pornô.
O ex-mandatário de 76 anos, que quer entrar na disputa pela Casa Branca em 2024, convocou apoiadores a protestar, colocando as forças de segurança em alerta.
Confira o que se pode esperar nos próximos dias:
Trump será indiciado?
A Justiça de Nova York quer determinar se Trump é culpado de ter dado declarações falsas — um delito menor — ou de descumprir as leis sobre financiamento de campanhas — um delito grave —, ao pagar US$ 130 mil (cerca de R$ 682 mil) à atriz pornô Stormy Daniels nas semanas prévias às eleições de 2016, para que ela ficasse em silêncio sobre um suposto relacionamento extraconjugal dos dois.
Apesar de o gabinete do promotor estadual de Nova York para o distrito de Manhattan, Alvin Bragg, não ter confirmado que prevê acusar Trump formalmente, o anúncio feito pelo ex-presidente no sábado é um sinal nesse sentido. Porém, há outros.
Nos Estados Unidos, os promotores podem apresentar testemunhas e provas a um painel formado por cidadãos, conhecido como grande júri, que decide se se justifica a apresentação das acusações.
Na semana passada, Daniels cooperou com o grande júri neste caso. O ex-advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, que reconheceu ter pago Daniels e disse que logo depois foi reembolsado, também testemunhou perante o painel.
Trump também foi convidado a falar, mas se negou.
— Os promotores quase nunca convidam o sujeito investigado a testemunhar diante do grande júri a menos que planejem acusar esse indivíduo — explicou Bennett Gershman, professor de direito na Universidade Pace e ex-promotor.
Sem precedentes
Uma acusação contra Trump daria início a um processo que pode durar vários meses, pois o caso enfrentaria uma série de problemas legais e seguiria com a seleção do júri.
No prazo mais imediato, desencadearia várias etapas, inclusive a determinação de como seria a detenção, ou mais provavelmente a entrega às autoridades, em vista da natureza não violenta das acusações e o pelo fato de Trump ser ex-presidente.
— Isso não tem precedentes e não há um procedimento definido — disse no domingo o ex-agente do Serviço Secreto americano Robert McDonald, agora professor de Justiça Penal na Universidade de New Haven.
Segundo o especialista, o Serviço Secreto, encarregado de proteger altos dignatários, coordenará com o escritório de Bragg para que Trump se apresente ao tribunal sem que sua chegada se transforme em um "espetáculo". Em outras palavras: ele não entrará algemado pela porta principal da corte, antecipou McDonald.
No sábado (18), o ex-promotor federal Renato Mariotti tuitou que espera que Trump "se apresente voluntariamente ao tribunal, tirem suas impressões digitais e o registrem, e que seja posto em liberdade sob fiança".
Dada a proeminência de Trump e sua candidatura em curso às eleições presidenciais de 2024, é provável que o juiz não considere que o ex-presidente traga risco de fuga e Trump poderá ir embora depois do procedimento, mediante o pagamento de uma fiança, se necessário.
— Suponho que não será retido durante à noite — avaliou McDonald.
No entanto, alguns acreditam que o ex-presidente pode se negar a se entregar, desafiando o promotor distrital de Manhattan a detê-lo.
— Alguém pode imaginar que Trump esteja querendo fazer isso — disse o ex-promotor Shan Wu. — Isso é algo que o escritório de Bragg estaria temendo.
Preparativos de segurança?
Após o pedido de Trump aos seus seguidores no sábado para protestarem contra uma eventual acusação contra ele, as autoridades estão em alerta, dada a violência que aconteceu em 6 de janeiro de 2021, quando manifestantes pró-Trump estimulados pelo então presidente invadiram o Capitólio dos Estados Unidos buscando deter a certificação da vitória do adversário, o democrata Joe Biden.
Agora, as forças de segurança, do FBI em nível federal à polícia de Nova York em nível estadual, se coordenam desde a semana passada, tendo em vista uma acusação formal do ex-presidente, a fim de evitar possíveis distúrbios, reportaram CNN e NBC, citando fontes anônimas.
Os grupos pró-Trump já estão se mobilizando. O New York Republican Club está promovendo, nesta segunda, em Manhattan, onde fica a Corte, um "protesto pacífico pelo atroz ataque de Alvin Bragg" contra Trump.
Apesar de as autoridades não terem dado indícios de que esperam violência próximo ao tribunal, a CNN citou fontes não identificadas segundo as quais as forças de segurança avaliam a possibilidade de manifestações de partidários e de opositores de Trump, com risco de enfrentamentos.
O departamento de polícia de Washington, cenário dos distúrbios no Capitólio há dois anos, declarou no domingo "não estar informado de nenhum" protesto na capital relacionada à possível acusação de Trump.