O papa Francisco, 86 anos, completa uma década de pontificado nesta segunda-feira (13).
Das reformas à diplomacia, passando pelo combate à pedofilia, veja, a seguir, as suas grandes linhas de atuação como líder da Igreja Católica.
Reformas
O sumo pontífice trabalhou para implementar uma reforma de longo alcance da Cúria romana — o governo central da Santa Sé — para torná-la mais atenta às igrejas locais. O papa argentino queria descentralizar a instância e dar mais espaço aos laicos e às mulheres.
Essas reformas, por vezes criticadas internamente, materializaram-se com a entrada em vigor, em 2022, de uma nova Constituição, que reorganiza os departamentos (ministérios) e prioriza a evangelização.
Francisco também renovou o obscuro e escandaloso setor financeiro do Vaticano, criando em 2014 um Secretariado de Economia, além de implementar uma estrutura de investimento e medidas anticorrupção. Ele também ordenou o reajuste do Banco do Vaticano, com o fechamento de cinco mil contas.
Essas mudanças foram afetadas pela pandemia de covid-19 e pelo choque do caso Becciu, um proeminente cardeal italiano julgado por uma aquisição imobiliária sem transparência por parte da Santa Sé.
Enfrentamento aos escândalos sexuais
A multiplicação dos escândalos sexuais na Igreja, da Irlanda à Alemanha, passando pelos Estados Unidos, tem sido um dos desafios mais dolorosos para o papa argentino.
Após os fracassos de uma comissão internacional de especialistas criada em 2014 e uma controversa viagem ao Chile em 2018, que terminou em uma série de notórias renúncias e exclusões, Francisco se desculpou publicamente por ter defendido um bispo de maneira equivocada. Ele também multiplicou suas desculpas às vítimas.
Em 2019, expulsou o cardeal estadunidense Theodore McCarrick, condenado por agressões sexuais a menores. Este foi um gesto forte em sua promessa de "tolerância zero" contra esse tipo de ação. O pontífice criou ainda uma comissão consultiva para a proteção de menores, que acabou sendo integrada à cúria.
Uma cúpula inédita no Vaticano sobre a proteção de menores em 2019 deu origem a uma série de medidas: supressão do segredo pontifício sobre crimes de abuso sexual por parte do clero, obrigação dos religiosos de denunciar qualquer caso à sua hierarquia e plataformas de ouvidoria em dioceses ao redor do mundo. Mas o segredo da confissão permanece inabalável.
Diplomacia
Em suas 40 viagens ao Exterior, Jorge Bergoglio quis dar mais importância às "periferias" e preferiu os países marginalizados do leste europeu ou da África, aos redutos católicos ocidentais.
O papa defendeu o multilateralismo e denunciou implacavelmente o comércio de armas Também optou pelo diálogo com todas as religiões, especialmente com o Islã, como demonstrado em uma visita histórica ao Iraque em 2021.
Durante seu pontificado, ele também chegou a um acordo inédito com o regime comunista chinês, em 2018, sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos na China. A diplomacia da Santa Sé também colaborou para a histórica aproximação entre Cuba e os Estados Unidos em 2014. Mas deparou com o muro da guerra na Ucrânia, onde os inúmeros apelos de paz do papa argentino não surtiram efeito.
Este conflito também enterrou a aproximação com o patriarca ortodoxo russo Kirill, base de apoio dos russos, apesar de um encontro histórico com Francisco em 2016, o primeiro entre os líderes das Igrejas Oriental e Ocidental desde o Cisma de 1054.
Imigrações e meio ambiente
Na ilha italiana de Lampedusa, símbolo dos naufrágios de imigrantes, ou no acampamento grego de Lesbos, no mar Egeu, o pontífice — ele próprio nascido em uma família de imigrantes italianos que chegaram à Argentina — tem defendido a todo custo as pessoas que fogem da guerra ou da pobreza e pediu um acolhimento sem distinção, sobretudo na Europa.
Com sua encíclica Laudato Si (2015), ele pediu uma "revolução verde" e criticou o "uso irresponsável dos bens que Deus colocou" na Terra.
Francisco, que apoia o Acordo de Paris, reiterou seu compromisso com a "ecologia integral".