Do quintal de sua casa em Tbilisi, Zurab Japaridzé mostra as marcas das agressões que recebeu na cabeça durante uma manifestação contra o governo da Geórgia.
Um controverso projeto de lei, que acabou sendo descartado pelas autoridades, levou a protestos multitudinários na capital do país, onde 144 pessoas foram detidas pela polícia - muitas delas de forma violenta.
Zurab foi brutalmente abordado por agentes de segurança durante as manifestações próximas ao Parlamento na noite de 7 de março, em uma ação que foi gravada e que viralizou na Internet.
O homem de 47 anos, líder do pequeno partido de oposição Girchi Mais Liberdade, relatou que foi levado, com outras duas pessoas, para o quartel-general das forças especiais, localizado ao lado do Parlamento.
"Quando já estávamos lá dentro e não haviam câmeras, eles nos espancaram com os pés, punhos e cassetetes, principalmente na cabeça", contou à AFP.
- Brutalidade policial -
Os manifestantes entrevistados pela AFP foram acusados de "motins" e de "desobediência", delitos que preveem multa, ou 15 dias de detenção administrativa.
Irakli Noniachvili, um trabalhador do alto setor tecnológico, contou que foi abordado no dia 8 de março, enquanto lutava para repelir o gás lacrimogêneo lançado pelos policiais na avenida Rustaveli.
O homem de 34 anos foi agredido por um soco no rosto e teve seus dedos torcidos por um dos agentes de segurança.
"Foi tão repentino que entrei em pânico, não sabia o que fazer, então levantei as mãos. Eles me agarraram e me levaram para o outro lado da rua", contou.
Noniachvili ficou detido por três horas até ser transferido para Telavi, cerca de 100 km a leste de Tbilisi. Lá, foi mantido preso por 14 horas.
De acordo com o Ministério do Interior, os manifestantes presos durante os protestos agiram de forma "agressiva", danificaram patrimônio público, ou atiraram pedras e outros objetos contra a polícia.
Guiorgui Mumladzé, funcionário do partido de oposição Movimento Nacional Unido (MNU), disse que a polícia tem "uma lista de nomes" e vai capturando essas pessoas à medida que são localizadas nas ruas.
"Perdi a consciência durante a prisão, porque eles estavam me sufocando", relatou, afirmando que teve "queimaduras de primeiro grau no rosto" pelo gás lacrimogêneo.
O jornalista Beka Jikurachvili também foi preso, enquanto cobria o primeiro dia dos protestos.
"Foi tudo muito rápido. Quatro policiais me agarraram, dois deles seguraram minhas mãos e os outros dois pelos pés e me arrastaram de cabeça para baixo", disse.
Apesar do pequeno número de manifestantes nesse dia, houve 36 detidos, relatou Beka, acrescentando que um processo administrativo foi instaurado contra ele, embora estivesse no local por seu trabalho como jornalista.
"Eles atacaram as pessoas que estavam ali pacificamente. Como se alguém estivesse resistindo a eles, o que não era o caso", ressaltou, enfatizando que "havia mais policiais do que manifestantes".
* AFP