Farouk Abdulhak, filho do bilionário iemenita Shaher Abdulhak, admitiu, durante troca de mensagens e áudios com a repórter Nawal Al-Maghafi, da BBC, que assassinou a estudante norueguesa Martine Vik Magnussen, 23 anos, em Londres, na Inglaterra, em 2008. Essa é a primeira vez que o suspeito, que está em uma lista dos mais procurados pela polícia londrina, fala sobre o caso. A BBC lançou na terça-feira (28) um documentário sobre o crime, cujo título é Murder in Mayfair (Assassinato no Mayfair, nome do bairro em que viviam).
Abdulhak contou à jornalista do veículo britânico que não se lembra de muitos detalhes sobre o dia do crime porque estava sob o efeito de cocaína. "Não sei o que aconteceu, é tudo um borrão. Eu tenho flashbacks de vez em quando. Se eu cheiro um certo perfume feminino, me sinto desconfortável", relatou em uma das mensagens.
Apesar de assumir a culpa, o filho de Abdulhak não usa a palavra assassinato ou estupro para se referir aos crimes cometidos. "Foi apenas um acidente. Nada nefasto. Só um acidente sexual que deu errado", minimizou o ocorrido.
Ao ser questionado se pretendia voltar a Londres e se entregar às autoridades, Farouk diz que ainda não se sente preparado e que seus advogados o aconselharam a não fazer isso porque ele cumpriria uma pena mais severa. Além disso, justificou que não teria muito o que relatar à polícia, já que não se lembra de quase nada do que ocorreu no dia do assassinato de Martine.
"Algumas coisas é melhor que não sejam ditas. A verdade é que eu não me lembro o que aconteceu, não há nada a dizer", disse, em uma das mensagens.
O suspeito também admitiu que outro motivo para não ter se entregado é que não confia no sistema jurídico do Reino Unido.
— Eu não acho que a justiça será feita. Acho que o sistema de justiça criminal lá (no Reino Unido) é fortemente tendencioso. Acho que eles vão querer fazer de mim um exemplo de filho de um árabe. É tarde demais — falou, em um dos telefonemas com a jornalista.
Em comunicado enviado à BBC, a polícia londrina disse que Farouk foi rapidamente identificado como o único suspeito do estupro e assassinato da estudante e que continua a mobilização para prendê-lo de forma preventiva e para que possa ser julgado.
A informação foi publicada nesta quarta-feira (29) pela BBC. A apuração é resultante de uma troca de mensagens e áudios ao longo de cinco meses entre a repórter Nawal Al-Maghafi e o suspeito.
Entenda o caso
Farouk Abdulhak e Martine Vik Magnussen estudavam na Regent's Business School, em Londres, capital do Reino Unido. A estudante tinha como objetivo trabalhar no mercado financeiro da capital britânica.
Em 14 de março de 2008, Martine e Farouk foram na boate Maddox, em Mayfair, no centro de Londres, para comemorar o fim do período de provas da faculdade. Segundo relatos prestados às autoridades, as amigas da estudante encontraram os dois na festa, e o suspeito chegou a falar com elas e convidá-las para irem até seu apartamento, que ficava próximo do local do evento. No entanto, como estavam cansadas, não aceitaram o convite e incentivaram que a Martine fosse.
Em imagens registradas por câmeras de segurança, é possível ver Martine e Farouk indo embora da boate juntos, às 2h59 (horário local). Depois disso, não há registros da vítima com vida.
No dia seguinte, como Martine não voltou para casa, seus amigos reportaram seu desaparecimento. Na manhã do dia seguinte, a estudante já estava morta, mas o corpo só foi descoberto pelas autoridades 48 horas depois. Os restos mortais da norueguesa foram localizados em um porão na Great Portland Street, no centro de Londres.
De acordo com o relatório policial do caso, a morte da vítima foi extremamente violenta, devido a uma compressão no pescoço, que pode ser resultado de uma tentativa de imobilização, estrangulamento ou sufocamento. "O corpo dela apresentava 43 cortes e arranhões, muitos deles típicos de lesões resultantes de agressão ou luta", diz trecho do documento.
Nesse intervalo de tempo, Abdulhak já havia deixado o país e foi para o Cairo, no Egito. Segundo a investigação, de lá, ele teria pegado um avião particular que pertencia ao seu pai e teria ido para o Iêmen. Na época, o advogado do suspeito disse que seu cliente era inocente e que não teria assassinado Martine.
Quem é o suspeito?
Criado entre os Estados Unidos e o Egito, Farouk Abdulhak é filho de um dos homens mais ricos e poderosos do Iêmen, Shaher Abdulhak, que morreu em 2020. Ele reside no Iêmen e não há informações sobre sua atual ocupação.
Shaher era conhecido como o "rei do açúcar" no Iêmen e mantinha uma vida discreta, longe dos holofotes da mídia. Sua figura foi vista pela primeira vez na mídia em 2009, quando um jornal norueguês publicou uma foto sua. Ele tinha uma fortuna avaliada em 6,8 bilhões de libras quando morreu (o equivalente a R$ 43 bilhões).