Depois de uma profunda crise diplomática, Espanha e Marrocos se comprometeram a intensificar sua cooperação nesta quinta-feira (2), em Rabat, apesar das críticas feitas ao presidente de governo espanhol Pedro Sánchez, acusado tanto por seus aliados da base governista quanto pela oposição de ceder muito a Rabat.
Acompanhado de uma dezena de ministros, Sánchez presidiu uma "reunião de alto nível" com seu par marroquino, Aziz Akhannouch. Foi a primeira desde 2015.
"Estamos ajustando as bases do tipo de relacionamento que queremos para a Espanha e o Marrocos no presente e no futuro", declarou o governante espanhol.
Akhannouch, por sua vez, afirmou que as relações entre os dois países "nunca haviam chegado a esse nível de cooperação e coordenação".
Sánchez encerrou, assim, um ano de conflito diplomático com Marrocos no final de março de 2022, ao aceitar apoiar o plano de autonomia marroquina para o Saara Ocidental.
A crise eclodiu em abril de 2021, quando a Espanha acolheu Brahim Ghali, líder dos separatistas saarauis da Frente Polisário, para um tratamento contra a covid-19.
Ambas as partes se comprometeram a evitar "tudo que for ofensivo à outra parte no que diz respeito às nossas respectivas esferas de soberania", disse o líder espanhol.
Esse desfecho, contudo, não agradou a todos na Espanha.
O partido radical de esquerda Podemos, membro da coalizão do governo, não quis participar da viagem a Rabat, citando seu desacordo com a guinada "unilateral" de Sánchez na questão do Saara Ocidental.
Além disso, a oposição conservadora e a imprensa viram como falta de prestígio o fato de Sánchez não ter sido recebido pelo rei Mohammed VI.
Elías Bendodo, coordenador-geral do Partido Popular (PP), principal força da oposição, lamentou nesta quinta-feira que "a Espanha mostra uma imagem de fraqueza".
"A ausência de Mohamed VI mancha a cúpula hispano-marroquina", noticiou o jornal El País.
Antes de sua chegada a Rabat, na quarta-feira (1º), o líder socialista falou por telefone com o monarca, que o convidou a voltar "muito em breve" ao Marrocos para uma visita oficial "para reforçar essa dinâmica positiva", segundo o gabinete real.
- Acordos econômicos -
Pedro Sánchez afirmou que "a Espanha quer ser um investidor de referência" para "promover investimentos em setores estratégicos para o desenvolvimento e para a modernização do Marrocos".
"Marrocos e Espanha querem estabelecer uma nova parceria econômica a serviço do desenvolvimento", destacou Akhannouch.
Para isso, foi aprovado um novo protocolo financeiro que vai duplicar - até 800 milhões de euros (US$ 877 milhões) - a ajuda do governo espanhol a projetos de investimento em Marrocos.
Cerca de 20 acordos foram assinados para facilitar os investimentos espanhóis no Marrocos, nos setores de energia renovável, usinas de dessalinização de água, transporte ferroviário, turismo, educação e cultura. A Espanha é o terceiro maior investidor estrangeiro no país.
"Agora, nossa missão é finalizar todos os acordos", disse o primeiro-ministro marroquino.
Também está previsto um pacto para "normalizar totalmente a passagem de pessoas e mercadorias" nas fronteiras marítimas e terrestres. A abertura de passagens terrestres se refere aos exclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, no norte do Marrocos.
* AFP