O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quarta-feira (25) o envio de 31 tanques M1 Abrams, os principais do arsenal estadunidense, para a Ucrânia. A medida acaba com um impasse que já durava semanas sobre o novo pacote de ajuda militar da Otan para o Leste Europeu.
A concordância de Biden em enviar os "pesos-pesados" norte-americanos parece ter sido o ajuste necessário para também garantir aos ucranianos o envio de 14 tanques Leopard 2, liberados pela Alemanha horas antes, após uma grande resistência dos alemães.
— Os tanques Abrams são os tanques mais capazes do mundo. Mas também são complexos de se operar e de se manter — disse Biden durante um pronunciamento à imprensa na Casa Branca, acrescentando que os EUA também enviarão para os ucranianos as peças e equipamentos necessários para colocar os tanques em funcionamento.
A expectativa da Ucrânia é de que os tanques ocidentais possam ser empregados imediatamente em combate, porém os tanques norte-americanos não devem se juntar, inicialmente, aos 14 Leopard 2 e aos 14 Challenger 2, do Reino Unido - e às centenas de veículos blindados americanos prometidos na semana passada pelos estadunidenses e por outros aliados europeus. Segundo o anúncio de Biden, isso pode demorar mais do que o esperado.
— A entrega desses tanques ao campo levará tempo - que usaremos para garantir que os ucranianos estejam totalmente preparados para integrar os tanques Abrams em suas defesas — afirmou.
Quando a Ucrânia começou a clamar por tanques para manter sua ofensiva contra as forças russas entrincheiradas no leste e no sul do país, os EUA já haviam alertado que o equipamento não era o ideal para atender às necessidades dos ucranianos por seu enorme consumo de combustível e alcance limitado - além da longa linha logística e de manutenção necessária.
Um batalhão de 58 tanques, por exemplo, requer dezenas de veículos de apoio e centenas de soldados para mantê-lo funcionando - uma fórmula conhecida nos círculos militares como relação dente-cauda. Isso pode incluir ambulâncias blindadas, veículos de comando, caminhões de manutenção e caminhões para rebocar tanques desativados. Os caminhões transportam combustível, munições, lubrificantes, óleo de motor, fluido hidráulico e peças de reposição extremamente pesadas.
— Tudo o que está associado ao tanque é pesado — declarou ao The Wall Street Journal Dan Grazier, ex-oficial de tanques do Corpo de Fuzileiros Navais. Mesmo com tudo isso, um batalhão de tanques só pode operar por dois ou três dias em campo sem reabastecimento de um batalhão de logística, relatou Grazier, que agora é pesquisador do Project on Government Oversight, um gabinete estratégico apartidário.
Em vez do M1 Abrams, o modelo que vinha sendo apontado como ideal para pronto-emprego na guerra era o alemão Leopard 2, mais fácil de operar pelos soldados ucranianos, movido a diesel e abundante na Europa. A Alemanha, fabricante do modelo e dona da prerrogativa de autorizar ou não o envio das armas, mesmo em posse de países estrangeiros, para um aliado de fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), relutava em ser a única do bloco a enviar tanques.
Mesmo sem mencionar diretamente uma exigência alemã, o discurso de Biden deixou claro que o envio dos Abrams passou por um entendimento político - muito provavelmente relacionado ao envio dos tanques alemães.
— Os EUA e a Europa estão completamente unidos. Nesta manhã, eu tive uma longa conversa com nossos aliados da Otan: o chanceler alemão, Scholz, o presidente francês, Macron, o primeiro-ministro Sunak e a premiê italiana, Meloni. A expectativa por parte da Rússia é de que nós vamos nos separar (...) mas nós estamos completamente unidos — enfatizou Biden.