Um homem suspeito de ser o autor de uma série de cartas-bomba enviadas no final do ano passado à embaixada da Ucrânia em Madri e ao presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, foi preso nesta quarta-feira (25), informou o Ministério do Interior.
O aposentado de 74 anos e nacionalidade espanhola, segundo uma fonte policial, foi detido em Miranda de Ebro, no norte do país, "como o suposto autor do envio das seis cartas com material explosivo que foram enviadas no final de novembro e início de dezembro", disse o ministério em nota à imprensa. "A operação (...) continua aberta, e buscas estão sendo feitas na casa do detido", acrescentou o ministério.
As embaixadas da Ucrânia e dos Estados Unidos e o presidente do governo espanhol foram destinatários das seis correspondências com material explosivo, enviadas deste mesmo país, conforme os investigadores.
Também foram enviadas para a ministra da Defesa, para uma fábrica de armas que produzia lançadores de granadas enviados por Madri para a Ucrânia, assim como para uma base militar de onde saíam voos com ajuda para o país invadido pelas tropas russas.
Em quase todos os casos, exceto no da embaixada ucraniana, os envelopes foram interceptados pela equipe de segurança antes de chegarem ao destinatário.
O envelope enviado ao embaixador ucraniano em Madri explodiu ao ser manuseado por um guarda da sede diplomática, que sofreu ferimentos leves em uma das mãos.
A Justiça espanhola abriu investigação por possível crime de terrorismo, enquanto Kiev ordenou o reforço da segurança das suas embaixadas.
Ucrânia acusa Rússia
O embaixador ucraniano na Espanha, Serhii Pohoreltsev, acusou implicitamente a Rússia, país que invadiu a Ucrânia há quase um ano, de estar por trás da carta que lhe foi enviada.
— Conhecemos os métodos terroristas do país agressor — disse Pohoreltsev à televisão pública espanhola.
A embaixada da Rússia na Espanha afirmou que "qualquer ameaça ou ato terrorista, ainda mais dirigido contra uma missão diplomática, é totalmente condenável".
Segundo o jornal The New York Times, os serviços de inteligência americanos e europeus suspeitavam de que um pequeno grupo paramilitar russo, o Movimento Imperial Russo (MIR), estava por trás da série de cartas explosivas.
Esse grupo ultranacionalista e supremacista branco, incluído na lista americana de organizações terroristas em 2020, teria agido secretamente por ordem do serviço de inteligência militar russo (GRU), segundo a imprensa americana.
"Os principais membros do grupo viajaram para a Espanha, e a polícia espanhola verificou seus laços com organizações espanholas de extrema direita", escreveu The New York Times. Segundo o jornal, a campanha foi organizada para "testar" a capacidade de ação destes grupos em caso de uma escalada do conflito.
— Parece um tiro de advertência — disse Nathan Sales, ex-coordenador de contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA, ao jornal.
O Ministério do Interior espanhol se recusou a comentar esta informação.
Segundo o Centro de Segurança e Cooperação Internacional da Universidade de Stanford (CISAC), que mantém uma lista dos principais grupos supremacistas do mundo, o MIR foi fundado em 2002 e luta ao lado de separatistas pró-Rússia desde 2014 na região ucraniana do Donbass. Mantém "contato com grupos neonazistas e supremacistas brancos em toda a Europa e nos Estados Unidos" e "forneceu treinamento paramilitar para cidadãos russos e membros de organizações relacionadas de outros países", detalha.