A Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta quarta-feira (7) "violações generalizadas" dos direitos humanos em El Salvador sob o regime de exceção com o qual o governo do presidente Nayib Bukele promove uma guerra contra os grupos criminosos.
O relatório "Podemos prender quem quisermos", elaborado pela HRW e a organização de defesa dos direitos humanos Cristosal, denuncia, entre outros crimes, prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados, tortura e maus-tratos na prisão.
"As violações dos direitos humanos não foram casos isolados", aponta o relatório, destacando que, nesses casos, os responsáveis são agentes das forças de segurança. "Tanto soldados quanto policiais cometeram abusos semelhantes de forma reiterada em todo o país em um período de vários meses", segundo um resumo do texto.
"Em alguns casos, as políticas do governo e a retórica de autoridades do alto escalão, entre elas o presidente Bukele, que comanda a Polícia Nacional Civil e as Forças Armadas, incentivaram os abusos", assinala o documento.
A HRW e a Cristosal ouviram de março a novembro 1.100 pessoas, nos 14 departamentos de El Salvador. Entre os entrevistados estavam vítimas de abusos, seus parentes, advogados, promotores, juízes, defensores dos direitos humanos e funcionários públicos.
A guerra contra as gangues lançada pelo governo de El Salvador em 27 de março, sob o estado de exceção, levou à prisão de 59.307 supostos integrantes das mesmas, segundo informação oficial. De acordo com a HRW e Cristosal, sob o estado de exceção, que permite prisões sem ordem judicial, uma campanha "levou à prisão de centenas de pessoas" que não têm relação com os grupos criminosos.
As organizações também registraram que cerca de 90 pessoas detidas sob o regime de exceção morreram na cadeia, mas, diante da falta de informações oficiais, não puderam determinar a causa das mortes. Segundo o relatório, o regime de exceção levou a uma superpopulação no sistema carcerário.
Como "recomendação" tanto ao governo quanto ao Congresso, HRW e Cristosal pediram "o fim do regime de exceção", por considerarem que não há "evidências sólidas" de que as restrições impostas pelo mesmo sejam necessárias. O presidente Bukele respondeu ao seu estilo no Twitter, com um simples "não".
* AFP