O velório acabou de começar. Seis dias após a morte da rainha, agora, de fato, começa o velório. Muitos não parecem cansados, pelo contrário, estão dispostos a passar horas na fila para ficar diante do caixão.
— É cansativo, sim. Mas é importante — relatou uma senhora em cadeira de rodas, acompanhada do filho e da nora, prontos para passar a madrugada, se for preciso.
A fila não tem um fim definido. Ela estava, quando vi, na altura da London Bridge, a uns três quilômetros do palácio onde ocorre o velório. Ao chegar na fila, as pessoas recebem uma pulseira, o que evita que alguém tente passar na frente. Há também monitores que acompanham grupos de aproximadamente 50 pessoas cada, do início ao fim da fila.
A fila anda e para. Mas anda! E até acho que está sendo mais rápido do que eu havia imaginado. A organização do funeral diz que a espera pode passar de 12 horas.
Mas enquanto muitos seguem dispostos a dar adeus à rainha Elizabeth II, outros tantos já estão cansados. Turistas que vieram pra cá para passear já não estão gostando das dificuldades para ir de um lugar a outro de Londres. Muitos têm preferido ir para bem longe do centro passar o dia.
— Aqui perto do palácio, está muito complicado, toda vez que saio do hotel é um caminho diferente que preciso fazer — disse Mônica Felipe, brasileira de Recife.
Policiais vivem momentos de tensão diante de tanto receio com a segurança. Encontrei alguns jogados no chão, lanchando, antes de voltar ao trabalho. Muitos deles vieram de outras cidades. O reforço é tão grande que até eventos esportivos, como jogos de futebol, foram cancelados para concentrar a ação policial aqui.
Os jornalistas também. As informações se repetem. Os dias, salvo uma ou outra atividade diferente, parecem iguais. O luto ainda é enorme, respeito. Mas 11 dias da morte ao sepultamento é bastante tempo.
A justificativa é a necessidade de dar oportunidade aos súditos de chegar perto do caixão. Foi preciso fazer isso na Escócia também, já que a rainha morreu lá. E, convenhamos, pegaria mal trazer o corpo sem prestigiar os escoceses.
Outro motivo para a demora em sepultar Elizabeth é a necessidade de montar uma operação diplomática complexa. Chefes de Estado e monarcas de todos os cantos do mundo foram convidados pra vir ao funeral na segunda-feira (19). Poucos ficaram de fora: os presidentes da Rússia e do Irã não foram convidados.
A coroa já está em outra cabeça, mas é ela que ainda domina os pensamentos dos britânicos. Elizabeth será pra sempre lembrada. Andando por Londres nesses dias e vendo vários monumentos em homenagem a outros monarcas, me questionei: o que será que vão construir pra ser tão grandioso como a história dela?
A maior obra é a imortalidade da jornada. A minha, aqui em Londres, chega ao fim. Termino essa semana escrevendo essa reportagem sentado no meio da Ponte de Westminster, em frente ao palácio onde ocorre o velório, diante do Big Ben. O relógio mais famoso do mundo avisa que é hora de voltar pra casa.