Há muita gente de outras nacionalidades chorando a morte de Elizabeth II em Londres. Pelas avenidas entre os palácios de Buckingham e de Westminster, são milhares de estrangeiros. Uns turistas, outros moram aqui. Há ainda quem programou a viagem depois da notícia da morte da rainha.
A egípcia Nadia Assiha enrolou no corpo uma bandeira com o rosto de Elizabeth II.
— Ela era uma grande mãe. Eu tenho uma fascinação pela família real. Não poderia deixar de vir participar do funeral — disse.
Nadia já até se enturmou com alguns ingleses e tem planos para os próximos dias: visitar o salão onde ficará o caixão da monarca na sede do parlamento.
Encontrei um casal do Nepal. Eles estavam com roupas bem características, mas são envergonhados e não quiseram que eu registrasse uma foto. Mas conversaram comigo. Eles moram aqui há alguns anos.
— Esse é um país de oportunidades, e ela ajudou nisso. Nós viemos trazer flores e ficamos para ver o cortejo — disse Thom Hain.
O cortejo, além da simbologia da perda da rainha, também é uma oportunidade rara de ver, ao vivo e de pertinho, toda a família real. E os turistas interromperam os passeios por Londres para ter essa chance.
Mas quando algum turista se animava muito, fazia muitas fotos ou falava alto, logo algum inglês reclamava e pedia respeito. Há um código de conduta a seguir, e o silêncio é a regra mais importante. Já escrevi para GZH que até os aviões que passariam pelo centro de Londres tiveram rotas alteradas ou foram atrasados para não atrapalhar.
Esbarrei em duas brasileiras, uma gaúcha e uma catarinense, que moram em Londres. A estudante de software Suzamar Bender, de Bento Gonçalves, contou que "é um momento de prestar nossas condolências".
— Moro aqui há mais de 10 anos e, como brasileira, é importante estar aqui também.
Já a amiga de Suzamar destacou a vida de trabalho público de Elizabeth.
— Eu achei admirável ela trabalhar até o fim, com dedicação. Pra gente que mora aqui, que é estrangeiro, também há essa obrigação de prestar essa homenagem — contou Daiane Dreier.
Para receber as milhares de pessoas, Londres se preparou rápido. Há uma quantidade incalculável de grades que guiam o caminho de quem pretende ir a qualquer um dos lugares das homenagens. Há banheiros químicos espalhados por todos os cantos, ambulâncias e postos médicos para socorrer alguém, caso seja preciso.
Policiais estão em centenas. E nunca sozinhos, andam sempre em grupos. Eu vi três prisões quando o caixão chegou a Londres ainda na terça-feira. Eles agem silenciosamente e retiram da multidão pessoas que, não consegui descobrir o motivo, consideram suspeitas.
Com toda essa gente, não há espaço para confusão. E se fica difícil ver a homenagem, os ingleses também improvisam. Quem ficou para trás usou os bancos para ganhar altura e enxergar alguma coisa.
No caminho para a fila do palácio de Westminster, encontrei um inglês desses que é apaixonado pela monarquia e que, agora, tem nome de rei: Charles Jones, 78 anos, aposentado.
— Eu amo a monarquia, claro ! É respeito.
Ele me chamou a atenção porque estava todo vestido de preto e caminhava com dificuldade. Estava no parque que dá acesso à fila de pessoas que esperam para acompanhar o velório. Carregava um bastão, como se fosse um cajado, e uma mochila com comida, câmera fotográfica, água e um banco dobrável. Serão longas horas de espera.
— É a última chance de ver ela. Elizabeth representava a estabilidade que a gente tanto considera importante. Sentiremos sua falta.