Sempre quis conhecer Londres, mas nunca havia vindo pra cá. Neste ano, programei férias especiais, e a primeira parada foi justamente nessa cidade que sempre vi nos filmes. Um lugar mágico e cheio de ícones: os ônibus, as cabines telefônicas, a cerveja, os guardas.. A rainha.
Passei quatro dias aqui, há duas semanas. Cheguei com o tempo quente, no fim do verão europeu. As ruas estavam cheias, com gente se divertindo, muita comida de rua e prédios gigantescos que contrastam com monumentos e construções históricas.
Esse antagonismo do velho e do novo foi o que mais me marcou aqui. Se um lado de Londres é passado, basta desviar o olhar e se vê o futuro. A terra do The Shard (um prédio altíssimo e todo espelhado) que está pertinho do Big Ben, o relógio mais famoso do mundo.
Havia um lugar na cidade que eu queria muito ir. Era, justamente, o palácio de Buckingham.
Fui três vezes lá. Em todas, o palácio estava bem mais vazio do que o normal. A nobre moradora estava na Escócia, como, aliás, fazia em todos os verões, pra fugir da alta temperatura dessa época do ano em Londres.
É justamente nesse período que turistas do mundo todo vêm a Buckingham, porque sem a rainha era possível visitar muitas alas do palácio. Eu me contentei em ver a fachada, e gastei o dinheiro que seria investido nessa visita em outras coisas.
Me arrependi depois. Agora, ainda mais.
Quando fui embora, para seguir viagem e continuar as férias, até pensei: "Logo quero voltar aqui". Não imaginava que esse "logo" seria tão breve.
Na última quinta-feira (8), às 15h, estava em Paris, passeando nas margens do Sena, que, aliás, me remeteu imediatamente aos passeios que tinha feito no leito do Tâmisa. Foi nessa hora que surgiu a notícia do estado de saúde gravíssimo da rainha e os rumores da morte. Em minutos, já havia a possibilidade de eu logo voltar a Londres, como de fato aconteceu.
Quando desembarquei, já não era a mesma cidade que eu havia conhecido nas férias. Na estação de trem, um pianista tocava o hino do país com uma grande bandeira exibindo a foto da rainha estampada. Arrepiei.
Corri ao Palácio de Buckingham. E vi um lugar lotado de gente e de flores. Bem diferente das outras três vezes que havia ido durante as férias. Via agora flores pelos portões, pessoas chorando, chuva, vento gelado e as luzes das velas espalhadas pelo chão.
Não é só por isso que a cidade está diferente. Todos aqui sabem que nessa mistura de antigo e novo que é Londres, esse é um momento que marca uma transformação. Setenta anos de um reinado que acabou. Uma mulher que parecia imortal, embora rainha, também não dura para sempre.
E, não estranhe, alguns ingleses estavam nas ruas comemorando. Alguns continuam nos bares, que, aliás, estavam cheios ontem!
Não é falta de respeito. É o jeito britânico de dar adeus celebrando também a vida e os feitos de quem trouxe estabilidade diante de um mundo com tanta transformação.
Talvez aquele equilíbrio que me chamou atenção entre o passado e o futuro tivesse dedo da rainha. E tem! Um país tão desenvolvido, com reis, rainhas, uma monarquia nos tempos modernos. Parece estranho para nós, que vemos de fora.
Mas é lindo testemunhar o amor que esse povo tinha pela sua rainha. Até quem não aprova a monarquia (e há muitos ingleses que não concordam com esse sistema, por conta do alto custo da família real) está sentindo a perda de Elizabeth II. Ela também atravessou a barreira do novo e do velho. Ela era a ponte de Londres.
E, essa é uma linda cidade, que vale a pena conhecer. E voltar.