Saint James fica perto de Buckingham, são uns 10 minutos de caminhada entre um palácio e outro. É muito mais discreto do que a residência oficial do novo rei e da antiga rainha.
Mesmo com a proximidade, hoje quem veio pra cá gritava pelo nome de Charles. A proclamação foi transmitida ao vivo pela TV. Mas, então, o que leva tanta gente a sair de casa e ficar em pé por horas esperando um pequeno - e incerto - aceno?
Resolvi escutar a conversa dos ingleses. Fiquei ao lado de um casal de idosos, que até estava com dificuldade de ficar em pé. Quando a gente entrevista os moradores de Londres sobre a monarquia, eles quase sempre falam a mesma coisa. Talvez eu poderia ter mais sorte de um relato autêntico ouvindo o papo entre eles, sem parecer interessado.
É difícil escutar. Eles falam muito baixo. E o inglês dos ingleses, bem, esse é sempre difícil de entender.
Consigo ouvir da senhora que ela está curiosa pra ver Charles como rei. Pelo que entendi, ela já viu ele outras vezes e é uma dessas pessoas apaixonadas pela monarquia. Usa até um broche nas cores da bandeira do Reino Unido. Ouvi também que eles estiveram em Buckingham ontem.
Essa curiosidade dos ingleses tem um motivo. Charles assume a coroa depois de um reinado muito marcante, o maior da história do Reino Unido. A relação dele com a mãe sempre foi assunto. A conjugal, então, nem se fala. E, hoje, mais uma vez se falou nisso. O senhor que está ao meu lado disse que queria ver Camilla (quando entrei ao vivo na Rádio Gaúcha e disse o nome dela em voz alta, ele me olhou curioso). A nova rainha consorte está ao lado do rei Charles em todas as aparições públicas que ele fez desde a morte de Elizabeth II.
Acompanhar essa espera para ver alguém da monarquia é uma mistura de expectativa com muito mais frustração do que felicidade. Esperei pra ver o rei de onde me posicionei. Passaram dezenas de carros pretos com vidro escuto. Não vi ninguém que eu reconheça. Uns homens com roupas religiosas, padres, talvez, passaram a pé e deram um oi tímido. O melhor foi quando um homem dirigindo um carro simples e cheio de equipamentos de trabalho passou no cordão de isolamento. Ele botou a mão pra fora e recebeu aplausos e todos caíram na gargalhada. Charles passou pela outra rua, não o vi de perto, mas gravei o carro onde ele passou. A 100 metros de um rei, também não é tão ruim assim.
Ontem, ao descer em frente ao palácio de Buckingham e cumprimentar o público, poucos viram Charles. Quando ele fica no mesmo nível do público, nesse mar de gente, não tem como ver muita coisa.
Eu sigo na expectativa de uma aparição em alguma sacada ou janela. Aliás, não estou sozinho nessa. Eu e alguns milhares estão aqui pra isso durante esse sábado.