Inspetores da Organização da Nações Unidas (ONU) chegaram nesta quarta-feira (31) à área da usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, onde pretendem estabelecer uma "presença permanente" para "evitar um acidente" na central ocupada por tropas russas.
— Vamos tentar estabelecer uma presença permanente da agência a partir deste momento — disse Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a entidade da ONU voltada para esse setor.
O objetivo, conforme detalhado na cidade de Zaporizhzhia (sul da Ucrânia), a 50 quilômetros da central, é "evitar um acidente nuclear e preservar esta importante usina nuclear", a maior da Europa, acrescentou.
A área da usina, ocupada pelas forças russas desde março, poucos dias após o início da invasão da Ucrânia, foi palco de recentes bombardeios pelos quais Ucrânia e Rússia se culpam.
Pouco antes da chegada dos inspetores, as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de novos bombardeios em Energodar, cidade onde está localizada a usina, na região de Zaporizhzhia.
A missão da AIEA, composta por 14 inspetores, planeja entrar na usina na quinta-feira (1º).
"Estabilizar a situação"
A usina nuclear está na linha de frente da guerra, mas os inspetores da AIEA já receberam garantias de segurança de ambos os lados para inspecioná-la, informou Grossi.
— Estas operações são muito complexas: vamos para uma zona de guerra, vamos para um território ocupado — ressaltou.
A missão do órgão de verificação da ONU passará alguns dias no local e informará suas conclusões quando retornar à sua sede em Viena (Áustria).
— Temos uma missão muito, muito importante a cumprir lá, avaliar a situação real, ajudar a estabilizar a situação o máximo possível — disse Grossi em Kiev, capital ucraniana, antes de partir para Zaporizhzhia.
A Ucrânia inicialmente temeu que uma visita da AIEA a Zaporizhzhia legitimasse a ocupação do local pela Rússia, mas acabou apoiando a missão, fazendo com que ela deixasse o território sob seu controle.
Contraofensiva no sul
A visita coincide com um aumento dos combates na região próxima de Kherson e na bacia de mineração do Donbass, no leste do país. A maior parte da região de Kherson e sua capital foram capturadas no início do conflito pelas tropas russas que avançavam da península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
As tropas ucranianas lançaram uma contraofensiva na frente sul na segunda-feira (29), um movimento previsto por analistas em meio à estagnação do conflito no Donbass, parcialmente controlado por forças pró-Rússia.
Em Bereznehuvate, cerca de 70 quilômetros ao norte da cidade de Kherson, repórteres da AFP ouviram disparos de artilharia e viram soldados descansando à beira de uma estrada. O Ministério da Defesa russo disse na terça-feira (30) que a Ucrânia sofreu uma derrota em seu contra-ataque no sul, perdendo 1,2 mil soldados e 150 veículos militares.
As tropas russas bombardearam outras cidades ucranianas, como Kharkiv (nordeste), onde pelo menos cinco pessoas foram mortas em um ataque ao centro da cidade, e Mykolaiv (sul), onde duas pessoas morreram e 24 ficaram feridas.
Vistos para os russos
Os ministros da Defesa da União Europeia (UE) começaram a planejar na terça-feira, em Praga, um programa de treinamento para soldados ucranianos.
— Há muitas iniciativas, mas as necessidades são enormes — disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, esperando "um acordo político geral e global" sobre o assunto.
Mais complicado é o consenso sobre uma proposta para proibir os viajantes russos de entrar nos países da UE. Os ministros das Relações Exteriores do bloco concordaram nesta quarta em suspender uma facilidade de visto que beneficia a Rússia, embora não tenham se movido em direção a uma proibição mais ampla. De qualquer forma, a medida tornará "mais difícil" e "mais longa" para os cidadãos russos obterem permissões para entrar na UE, disse Borrell.
A Rússia, por sua vez, está pressionando a UE ao reduzir suas exportações de gás, o que provocou um novo aumento nos preços da eletricidade. Os russos suspenderam novamente o fornecimento de gás através do gasoduto Nord Stream, que liga a Rússia à Alemanha, alegando trabalhos de manutenção numa estação de compressão.