Um euro vale um dólar. Pela primeira vez em 20 anos, a moeda europeia se desvalorizou até alcançar, nesta terça-feira (12), a paridade com a moeda americana. Quais são as consequências concretas dessa desvalorização?
Inflação e poder aquisitivo
Quase metade dos produtos importados na zona do euro é faturada em dólar, contra 40% comprados em euros, segundo o escritório de estatísticas Eurostat. É o caso de muitas commodities, a começar pelo petróleo e pelo gás, cujos preços já subiram nos últimos meses, devido à guerra na Ucrânia.
Com a desvalorização da moeda europeia, são necessários mais euros para comprar produtos importados em dólares.
— Os produtos importados em dólares perdem competitividade (...) e ficam mais caros — explicou Isabelle Méjean, professora da Escola Superior Sciences Po, o que contribui para acelerar a inflação e ameaça o poder de compra das famílias.
— Outra veia dessa depreciação é que o turismo de europeus, especialmente para os Estados Unidos, será contido — disse William De Vijlder, economista do BNP Paribas.
Enquanto isso, turistas dos Estados Unidos e de outros destinos ganham com o câmbio e podem consumir mais com a mesma quantidade de dólares.
Empresas
O efeito da queda do preço do euro varia de acordo com a dependência que as empresas têm do comércio externo e da energia.
— As empresas que exportam para fora da zona do euro se beneficiam da desvalorização do euro, já que seus preços se tornam mais competitivos, mas as empresas importadoras são prejudicadas — afirma o diretor de pesquisa do banco público Bpifrance, Philippe Mutricy.
As empresas dependentes de commodities e de energia e que exportam pouco vão registrar uma explosão de gastos. Quem sai ganhando é a indústria manufatureira exportadora, principalmente os setores da aeronáutica, os fabricantes de automóveis, a de luxo e a indústria química.
Crescimento e dívida
Em tese, a desvalorização do euro torna os preços mais competitivos e estimula as exportações. Isso poderia amortecer o impacto no crescimento da alta dos preços das commodities no contexto da guerra na Ucrânia, especialmente em economias mais orientadas para a exportação, como a Alemanha.
Para o pagamento da dívida dos países europeus, o impacto depende. Um crescimento maior pode "facilitar o pagamento da dívida", observou Méjean, desde que os mercados vejam a dívida europeia como suficientemente segura, e as taxas de juros permaneçam baixas. Já para os Estados que emitiram títulos denominados em dólares, uma desvalorização do euro aumenta o custo do reembolso.
Bancos centrais
A desvalorização do euro acelera a inflação, e isso pode levar o Banco Central Europeu (BCE) a aumentar mais rapidamente as taxas de juros. Este mês, o órgão emissor se prepara para seu primeiro aumento em 11 anos.
— Pode-se dizer que o BCE não deve reagir ao aumento dos preços das commodities, mas seu desafio de controlar a inflação se torna maior, já que o preço das importações aumenta — diz o economista William De Vijlder.