O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, apresentou nova renúncia nesta quinta-feira (21), informou a assessoria de imprensa da presidência, depois que seu governo de coalizão de unidade nacional entrou em colapso. Ele já havia renunciado na semana passada, mas, na ocasião, o pedido foi negado pelo presidente Sergio Mattarella.
Desta vez, Draghi "reiterou sua renúncia e a do Executivo que chefia", disse a presidência em um breve comunicado, especificando que "foi informada" da decisão e que ele permanecerá no cargo por enquanto para "dirigir os assuntos atuais".
Muito aplaudido nesta quinta-feira na Câmara dos Deputados, Draghi solicitou de imediato a suspensão da sessão para se deslocar ao palácio presidencial do Quirinal, onde chegou pouco depois das 9h15min locais (4h15min em Brasília) para comunicar a decisão ao presidente Mattarella.
O chefe de Estado, árbitro da política na Itália, deve abrir um processo, de acordo com as regras de uma democracia parlamentar, que na opinião de muitos observadores levará a eleições antecipadas para a primeira ou segunda semana de outubro.
Uma conclusão esperada depois que o Forza Italia, o partido de direita de Silvio Berlusconi, a Liga, o partido de extrema-direita de Matteo Salvini, e o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E) se recusaram a participar de um voto de confiança solicitado na quarta-feira (20) pelo primeiro-ministro no Senado.
Direita favorita
Os partidos de direita que faziam parte do Executivo esperam ganhar as eleições e decidiram derrubar o primeiro-ministro sob o pretexto de não querer mais governar junto com o Movimento 5 Estrelas. Por sua vez, os antissistemas, que iniciaram a crise na semana passada, consideram que vários pontos das leis propostas por Draghi são contrários aos seus princípios e que todas as medidas tomadas durante o governo anterior foram desmanteladas.
O fim do Executivo de unidade poderia, sobretudo, beneficiar a coalizão de direita liderada pelo partido pós-fascista Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), liderado por Giorgia Meloni, que segundo as pesquisas ganharia confortavelmente as eleições antecipadas.
"Estamos prontos. Esta nação precisa desesperadamente recuperar sua consciência, seu orgulho e sua liberdade", tuitou nesta quinta-feira Meloni, uma veterana líder de extrema-direita que pode se tornar a futura chefe de governo da Itália.
Essa perspectiva preocupa os europeus, já que o seu partido, os Irmãos de Itália, com 24% das intenções de voto, defende uma revisão dos tratados da União Europeia e até a sua substituição por uma "confederação de Estados soberanos".
O comissário europeu para a Economia, o italiano Paolo Gentiloni, considerou "irresponsável" a deserção dos partidos da coalizão, enquanto Bruxelas e seus parceiros europeus pressionaram para que Draghi permanecesse no cargo.
Os mercados observam cuidadosamente a situação. O custo da dívida da Itália subiu novamente e a Bolsa de Valores de Milão fechou em queda de 1,6% na quarta-feira, um sinal de nervosismo devido à incerteza na terceira maior economia da zona do euro.