O presidente da Itália, Sergio Mattarella, negou o pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, nesta quinta-feira (14). Após uma derrota simbólica no Senado italiano que enfraqueceu a coalizão de governo, Draghi apresentou pessoalmente o pedido de renúncia a Mattarella no Palácio do Quirinal, que a recusou e determinou que o premiê tente reorganizar a coalizão no Parlamento.
"A maior parte da unidade nacional que sustentou este governo desde sua criação não existe mais", disse Draghi em comunicado divulgado por seu gabinete.
Se a crise do governo não puder ser resolvida rapidamente, Mattarella pode dissolver o parlamento, preparando o terreno para uma eleição já em setembro.
Mais cedo, Draghi havia vencido uma votação de confiança no Senado, mas o futuro de seu governo de unidade pandêmica estava em dúvida depois que o partido populista Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) boicotou a votação, jogando sua coalizão em crise.
Giuseppe Conte, ex-chefe de governo e atual líder do M5E, anunciou na noite de quarta-feira (13) que os senadores de seu partido não comparecerão ao voto de confiança, o que de fato produziria uma crise de governo, ao perder a maioria para governar.
A recusa de Conte se deve ao fato de que o decreto-lei proposto por Draghi, com medidas para ajudar famílias e empresas contra a inflação, também contém um projeto para construir um incinerador de lixo para Roma, ao qual os antissistemas se opõem energicamente por considerá-lo caro, poluente, ineficiente e ultrapassado como tecnologia.
Durante a votação da semana passada na Câmara dos Deputados, o M5E votou a confiança no governo, mas depois se absteve de votar o decreto-lei.
As regras são diferentes no Senado e, portanto, devem votar tanto a confiança quanto os decretos.
Draghi antecipou em várias ocasiões que sem o apoio do M5E encerrará o seu mandato, apesar de o partido antissistema, vencedor das eleições de 2018 com 32% dos votos, estar em plena desordem e muitos de seus parlamentares (cerca de 50) terem emigrado para outros partidos.
O ex-líder do M5E e atual ministro das Relações Exteriores Luigi Di Maio fundou inclusive seu próprio partido, chamado Juntos pelo Futuro (IPF), e tenta ganhar visibilidade antes das eleições legislativas marcadas para o início do próximo ano.
Uma queda do governo provocaria eleições antecipadas, e os próximos meses vão ser complicados devido ao aumento da inflação e às reformas pendentes exigidas para o plano de recuperação financiado pela União Europeia, que concedeu cerca de 200 bilhões de euros (quase o mesmo valor em dólar).
Draghi, economista de prestígio e ex-presidente do Banco Central Europeu, foi convidado em fevereiro de 2021 pelo presidente da República para liderar uma coalizão heterogênea que reúne quase todos os partidos representados no parlamento.
A única exceção é o partido de extrema-direita Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), que permaneceu na oposição e é o grande favorito nas pesquisas.
É provável que Draghi, que teve de enfrentar a campanha de vacinação contra a covid-19 e a crise gerada pela guerra russa contra a Ucrânia com todas as suas consequências políticas e econômicas, tenha que entregar a grave situação ao presidente Mattarella e acabar, de fato, renunciando.
Como o sistema parlamentar que governa a Itália é complexo, não se exclui a possibilidade de que ele obtenha um novo mandato e possa governar com outra maioria.