Em 7 de julho de 2021, o Haiti acordou com a notícia de que seu presidente, Jovenel Moise, acabara de ser assassinado em sua casa por um comando armado.
Um ano depois, as investigações estão estagnadas, os instigadores e os motivos do crime permanecem desconhecidos, e o clima político no país continua se deteriorando.
Naquele dia, os agressores pareceram ter entrado facilmente na residência do presidente, sem que as unidades de elite encarregadas de sua proteção fizessem algo para neutralizá-los.
Poucas horas depois, a polícia haitiana mostrou velocidade excepcional ao prender cerca de 20 pessoas, incluindo 18 ex-soldados colombianos. Mas os processos judiciais subsequentes, realizados tanto no Haiti quanto nos Estados Unidos, avançam muito lentamente.
Desde a morte de Moise, a Presidência está vaga e não há data prevista para a eleição de seu sucessor. Cinco juízes de instrução se sucederam neste caso, e nenhum deles acusou formalmente qualquer uma das 40 pessoas presas, incluindo os colombianos que supostamente compunham o comando.
Para piorar a situação, a Justiça está mais à deriva do que nunca. Há um mês, os escritórios da Procuradoria de Porto Príncipe estão ocupados por uma das muitas gangues criminosas que controlam partes inteiras do território haitiano.
- Primeiro-ministro sob suspeita -
O possível envolvimento do primeiro-ministro Ariel Henry no assassinato atrasou ainda mais a investigação judicial.
Nomeado apenas dois dias antes do assassinato, Henry é suspeito de ter conversado por telefone com um dos principais réus algumas horas depois do ataque.
Convidado pelo procurador para prestar esclarecimentos, o chefe do governo não compareceu e, depois, exonerou o magistrado, nomeando um novo ministro da Justiça.
Isso levou a viúva do presidente, Martine Moise, gravemente ferida durante o atentado, a se recusar categoricamente a comparecer às cerimônias de homenagem ao seu falecido marido, oficiadas por um chefe de governo sobre o qual "pesam sérias suspeitas de que possa ter assassinado o presidente da República", disse ela.
Uma breve cerimônia ocorreu na manhã desta quinta-feira no coração do jardim do Museu do Panteão Nacional, na capital.
"Apesar de sua debilidade, a Justiça deve seguir fazendo o possível para encontrar os culpados, levá-los aos tribunais e impor a eles sentenças exemplares e dissuasórias", disse Ariel Henry diante de funcionários do governo e diplomatas estrangeiros.
"A morte do presidente deve ser o último ato em um período de ignomínia e intolerância", acrescentou.
Também nesta quinta, no centro de Bogotá, a capital colombiana, cerca de 30 manifestantes exigiam "justiça e verdade" para os ex-militares colombianos detidos no Haiti por seu suposto envolvimento na morte de Moise.
"Queremos um julgamento justo para eles, já que um ano se passou e estamos como se ainda fosse o primeiro dia. Eles não foram ouvidos", disse à AFP Amalia Guzmán, esposa de um dos detidos.
Este assassinato agravou a crise política haitiana. O Parlamento não funciona há dois anos. Desde que chegou ao poder em 2017, Moise não convocou eleições. Hoje, o Haiti também não tem presidente, e o Tribunal de Justiça não funciona por falta de juízes.
- Evidência classificada nos EUA -
Enquanto isso, a Justiça dos EUA acusou três pessoas pelo assassinato de Moise, atualmente detidas em Miami.
Em seu relatório de investigação, a polícia judiciária haitiana estabeleceu que o complô contra o presidente havia sido tramado no estado da Flórida e que os mercenários colombianos foram recrutados por uma empresa de segurança com sede em Miami.
Em janeiro deste ano, Mario Palacios, um cidadão colombiano suspeito de ser um dos cinco homens armados que invadiram o local onde o presidente foi assassinado; e Rodolphe Jaar, um haitiano-chileno, foram formalmente indiciados.
Em junho, se juntou a eles o ex-senador haitiano John Joel Joseph, acusado de cumplicidade no assassinato.
Um quarto suposto membro do comando foi preso no aeroporto de Istambul em novembro, mas a Justiça da Turquia rejeitou na última segunda o pedido de extradição do Haiti e ordenou sua libertação.
Familiares dos mercenários detidos no Haiti e o governo da Colômbia denunciam maus-tratos e lentidão no processo judicial.
"É totalmente irregular que algumas pessoas estejam detidas por tanto tempo sem que tenhamos [...] um processo que esteja avançando", disse a vice-presidente e chanceler colombiana, Marta Lucía Ramírez.
Em abril, um juiz americano deu um duro golpe naqueles que esperavam que o processo judicial em andamento nos Estados Unidos pudesse levar à descoberta dos bastidores do assassinato de Moise ao decidir classificar algumas das provas como secretas.
O magistrado tomou esta decisão porque, entre os réus, há dois ex-informantes da DEA, a agência antidrogas dos EUA, e um ex-informante do FBI, a polícia federal investigativa americana.
"Não vemos com bons olhos que os Estados Unidos decidiram proteger algumas informações. Toda uma parte desta história permanecerá em segredo", comentou uma fonte judicial haitiana que preferiu permanecer anônima.
* AFP