A Rússia bombardeou um bairro residencial de Kiev, capital da Ucrânia, nesse domingo (26), horas antes do início da cúpula do G7 na Alemanha, grupo para o qual a Ucrânia voltou a pedir mais apoio para contra-atacar o avanço das tropas russas na região do Donbass, no leste.
Quatro explosões foram registradas por volta das 6h30 (0h30 em Brasília) em Kiev e atingiram um complexo residencial do bairro de Shevchenkivskiy, provocando um incêndio, segundo os jornalistas da AFP presentes no local.
"Ao menos uma pessoa morreu e quatro foram hospitalizadas, dentre elas uma menina de sete anos", assinalou no Telegram o prefeito, Vitali Klitschko. O balanço ainda pode se agravar já que há pessoas "sob os escombros", acrescentou.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que as informações que apontam que o ataque atingiu uma área residencial eram falsas e afirmou que o bombardeio alcançou a fábrica de mísseis Artiom. A capital ucraniana não registra ataques russos desde o início de junho e os de hoje aconteceram pouco antes do início da cúpula do G7 no sul da Alemanha.
Esta é a terceira vez que o bairro é alvo de ataques desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro. A primeira foi em meados de março e a segunda em 28 de abril, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, visitou Kiev.
"Mas agora, trata-se de intimidar os ucranianos diante da proximidade da cúpula da Otan", disse Klitschko.
Além do G7, que reúne os líderes de Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Itália, Japão e Reino Unido, os aliados da Ucrânia se reunirão a partir de terça-feira na cúpula da Otan em Madri.
Um ato de "barbárie"
— Acordei com a primeira explosão, fui à varanda e vi misseis caindo e ouvi uma explosão enorme, tudo tremeu — contou à AFP Yuri, um morador de 38 anos, que não quis divulgar seu sobrenome.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou os ataques russos sobre Kiev de "barbárie".
— Nossos militares fazem o possível para prevenir os ataques contra nossa cidade. Mas, lamentavelmente, não podemos garantir 100% de segurança em Kiev nem em outras partes da Ucrânia enquanto a agressão (russa) continuar — disse Klitschko.
Segundo o deputado ucraniano Oleksi Goncharenko, Moscou disparou 14 mísseis contra Kiev e arredores pela manhã. Após a agressão, o governo ucraniano voltou a pedir mais armas e sanções aos líderes ocidentais.
"A cúpula do G7 deve responder com mais sanções contra a Rússia e mais armas pesadas para a Ucrânia", escreveu no Twitter o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba.
Kuleba também fez um chamado para "derrotar o imperialismo doentio" russo. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, participará por videoconferência da reunião do G7 nesta segunda, enquanto o conflito entra em seu quinto mês e corre o risco de se prolongar.
Embargo ao ouro russo
À espera de um anúncio coletivo ao término da cúpula na terça-feira (28), Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Japão já se anteciparam e anunciaram um embargo sobre o ouro russo. As exportações de ouro por parte de Moscou totalizaram cerca de 15,5 bilhões de dólares em 2021, segundo o governo britânico.
Durante a cúpula nesse domingo, Biden também fez um chamado à unidade do grupo, que segundo ele não se dividiu, contrariando os desejos do presidente russo, Vladimir Putin. O premiê britânico Boris Johnson advertiu, no entanto, para o risco de "fadiga" dos países ocidentais e anunciou uma nova ajuda de até US$ 525 milhões a Kiev.
Johnson desaconselhou o presidente francês, Emmanuel Macron, a buscar "agora" uma solução negociada na Ucrânia, pois isso poderia prolongar a "instabilidade mundial". Contudo, ambos os líderes concordaram que ainda "era possível mudar o rumo da guerra", segundo um porta-voz do governo britânico.
Severodonetsk e Lysyschansk
No sábado, o exército ucraniano informou sobre um "ataque russo em larga escala [...] com mais de 50 mísseis de vários tipos lançados do ar, do mar e da terra" na noite anterior a partir de Belarus.
Putin, por sua vez, anunciou que seu país iria entregar a Belarus mísseis com capacidade nuclear "nos próximos meses". O regime de Alexander Lukashenko não está oficialmente envolvido no conflito, mas, como aliado do Kremlin, lhe oferece apoio logístico.
As forças russas obtiveram avanços importantes no leste da Ucrânia no sábado, com a conquista de Severodonetsk e a entrada das tropas na vizinha Lysychansk. O governador de Luhansk, província da qual Severodonetsk faz parte, Serhiy Haiday, afirmou que "há danos em 90% da cidade e que será muito difícil sobreviver" nela.
A queda dessas duas cidades industriais separadas por um rio poderia facilitar o avanço das tropas russas a Sloviansk e Kramatorsk, situadas mais a oeste na região de Donetsk. Luhansk e Donetsk formam juntas o Donbass, uma região que já estava parcialmente nas mãos dos separatistas pró-Rússia desde 2014 e que Moscou deseja controlar.