A Otan fez nesta quarta-feira (29) sua maior revisão estratégica dos últimos 30 anos. Na cúpula de Madri, a aliança declarou a Rússia a "ameaça mais significativa e direta" à paz e segurança e considerou a China um "desafio" aos interesses de seus membros, com suas "ambições declaradas e políticas coercitivas".
Na cúpula, a Otan também oficializou o processo de adesão de Finlândia e Suécia, um dia depois de a Turquia retirar suas objeções - uma mudança que representa uma consequência direta da decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de invadir a Ucrânia.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, lembrou que o conceito estratégico anterior, elaborado em 2010, considerava a Rússia um "parceiro estratégico", que refletia uma relação mais amistosa. A China, que agora é um "desafio", sequer era citada no documento anterior.
Ajuda
Nesta quarta-feira (29), a Otan também garantiu seu apoio à Ucrânia "pelo tempo que for preciso" para resistir à invasão russa. Os 30 membros da aliança condenaram a "crueldade terrível da guerra, que causa imenso sofrimento humano".
— Moscou tem total responsabilidade por esta catástrofe humanitária — acrescentaram os membros em sua declaração final.
— A guerra de Putin contra a Ucrânia destruiu a paz na Europa e criou a maior crise de segurança desde a 2.ª Guerra — disse Stoltenberg.
Reforço
O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou a cúpula de uma "reunião histórica" e prometeu que a aliança - formada em 1949 para proteger a Europa de um eventual ataque soviético - estava comprometida em "defender cada centímetro" do território de seus membros.
— Agora mais do que nunca — disse Biden.
O presidente americano também anunciou que os EUA, pela primeira vez, enviarão forças permanentes para o flanco leste da Otan, implantando um quartel-general e um batalhão de apoio de campo na Polônia, posicionando um número ainda não revelado de tropas para ação rápida na fronteira com a Rússia.
Com aval turco, Otan passa por uma das maiores reformulações estratégicas de sua história para enfrentar ameaça russa
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Pedido
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, discursou por videoconferência e pediu mais ajuda do Ocidente. "Precisamos de sistemas e artilharia moderna", afirmou, antes de acrescentar que o apoio econômico "não é menos importante que a ajuda militar".
— A Rússia continua recebendo bilhões a cada dia e os gasta na guerra. Temos um déficit bilionário. Não temos petróleo nem gasolina para cobrir — afirmou Zelensky, para quem a Ucrânia precisa de US$ 5 bilhões por mês para sua defesa.
O presidente ucraniano, porém, lamentou que a boa vontade da aliança atlântica para aceitar novos membros não se aplique ao seu país.
— A política de portas abertas da Otan não deve se assemelhar às velhas catracas do metrô de Kiev, que ficam abertas, mas se fecham quando você se aproxima para pagar. A Ucrânia não pagou o suficiente?
China
Quem também oficialmente se tornou um foco de preocupação da Otan é a China. A nova estratégia da aliança mostrou que o Ocidente agora enxerga Pequim de uma maneira bem diferente.
"As ambições declaradas e as políticas coercitivas da China desafiam nossos interesses, segurança e valores", afirma o texto, que orientará a Otan nos próximos anos.
"A China emprega uma gama de ferramentas políticas, econômicas e militares para aumentar sua presença global e projetar poder, mantendo ao mesmo tempo a opacidade sobre sua estratégia, intenções e desenvolvimento militar", afirma a aliança.
Ameaças
Putin falou nessa quarta-feira pela primeira vez após a oficialização dos pedidos de adesão de suecos e finlandeses à Otan. Em viagem ao Turcomenistão, ele garantiu não considerar um problema a entrada dos dois países na aliança.
— Não temos problemas com Suécia e Finlândia como os que temos com a Ucrânia — afirmou Putin.
— Se Suécia e Finlândia desejarem, podem aderir. É assunto deles. Podem aderir ao que quiserem.
O presidente russo, porém, prometeu responder se a Otan instalar infraestrutura nos dois países. O vice-chanceler, Serguei Riabkov, no entanto, demonstrou mais contrariedade.
— A expansão da Otan é um fator desestabilizador. Ela não dá segurança nem aos que a estão expandindo, nem aos que se juntam a ela, nem aos países que percebem a aliança como uma ameaça — disse.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.