O promotor paraguaio antimáfia Marcelo Pecci foi assassinado nesta terça-feira (10) por pistoleiros que chegaram em motos aquáticas ao local onde ele passava a lua de mel, perto da cidade colombiana de Cartagena.
Pecci, 45 anos, morreu em decorrência dos dois tiros que levou na ilha Barú, uma região turística exclusiva do norte da Colômbia, segundo relato de sua mulher, a jornalista Claudia Aguilera.
"Dois homens atacaram Marcelo. Vinham em uma embarcação pequena, ou um 'jet sky', na verdade não vi bem", contou a mulher ao jornal El Tiempo. Um dos agressores desceu e, "sem dizer palavra, atirou duas vezes em Marcelo, que sofreu um impacto no rosto e outro nas costas", descreveu Aguilera.
Uma equipe de "cinco funcionários" da divisão de homicídios foi enviada para investigar o crime, informou o diretor da polícia colombiana, general Jorge Luis Vargas. Segundo ele, a agência antidrogas americana DEA e autoridades da Colômbia e do Paraguai trabalham para "obter o máximo de informações" sobre o crime.
"Iremos organizar uma equipe internacional de busca e localização desses criminosos onde quer que eles estejam", acrescentou o oficial. A polícia anunciou uma recompensa equivalente a cerca de US$ 488.000 por informações que levem à captura dos assassinos.
Helicópteros, mergulhadores, peritos e promotores especializados fazem parte do corpo investigativo responsável pelo caso.
- Pistoleiros -
O promotor casou-se em 30 de abril e passava a lua de mel no Hotel Decameron, que também forneceu detalhes do homicídio em um comunicado.
"Na manhã de hoje, pistoleiros que chegaram em motos aquáticas à praia que fica em frente ao Hotel Decameron Barú atentaram e assassinaram um dos nossos hóspedes", diz a nota.
Segundo a viúva, o promotor não era alvo de "nenhuma ameaça". Na última publicação da jornalista no Instagram, o casal aparece abraçado na praia e, em primeiro plano, sapatinhos de bebê.
A procuradora-geral do Paraguai, amiga pessoal de Pecci, disse à W Radio que Aguilera está grávida. "Vou levar Marcelo eternamente no coração. Um homem íntegro, lutador, um promotor exemplar", disse mais cedo a promotora do Paraguai, Sandra Quiñonez, durante coletiva de imprensa.
O general Vargas também anunciou que uma "comissão de oficiais" paraguaios chegará à Colômbia para dar suporte à investigação junto com as autoridades americanas.
"Já temos informações que estão sendo coletadas (...) e que são de caráter reservado que nos ajudarão a identificar os responsáveis por este fato lamentável", afirmou Vargas.
A polícia divulgou a imagem de um dos supostos agressores de Pecci em busca de informação que permita sua captura. Na foto vê-se um homem magro, de pele morena, sorridente, com chapéu e óculos de sol.
Pecci era um promotor especializado no combate ao crime organizado, narcotráfico, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.
Ficou conhecido por sua participação no caso que pôs atrás das grades o ex-jogador de futebol brasileiro Ronaldinho entre março e agosto de 2020 por entrar no Paraguai com documentos falsos.
Segundo o general Vargas, seus homens "não tinham conhecimento" da estadia do investigador na Colômbia, embora ele fosse "uma das pessoas mais protegidas do Paraguai".
- 'Próprio da máfia' -
O presidente da Colômbia, Iván Duque, condenou o assassinato de Pecci no Twitter e assegurou que está em comunicação com o colega paraguaio, Mario Abdo Benítez, com o "fim de acordar toda a cooperação para encontrar os responsáveis".
Mais cedo, Abdo tinha expressado repúdio usando a mesma rede social. "O assassinato covarde do promotor Marcelo Pecci na Colômbia deixa de luto toda a Nação paraguaia. Condenamos nos termos mais enérgicos este fato trágico e redobramos nosso compromisso de luta contra o crime organizado".
Segundo a embaixadora do Paraguai na Colômbia, Sophia López, por se tratar de uma investigação em andamento, o corpo de Pecci não será trasladado de "imediato". A diplomata disse ao Unicanal que o promotor estava em uma viagem "privada" e não tinha previstas reuniões de trabalho durante sua passagem pela Colômbia.
O presidente da Associação de Promotores do Paraguai, Augusto Salas, atribuiu à máfia a autoria do crime. "A forma como agiram, a forma como executaram, é própria da máfia. Então, não posso pensar em outra coisa, a menos que se demonstre o contrário", afirmou o promotor.
O Ministério Público paraguaio lamentou "a perda" de seu "colega de trabalho" e afirmou que realiza ações para prestar assistência e garantir a segurança de sua família.
Paraguai e Colômbia acabam de estreitar sua aliança contra o crime organizado e transnacional. Em encontro recente em Cartagena com o presidente paraguaio, Duque anunciou que seu governo apoiará com Inteligência e formação militar o combate ao Exército Paraguaio do Povo, guerrilha implicada em sequestros de pecuaristas e centenas de assassinatos de militares, policiais e civis.
O governo colombiano enfrenta a violência financiada pelo narcotráfico, que se seguiu ao acordo de paz com a ex-guerrilha mais poderosa do continente, as Farc. Apesar de décadas de enfrentamento ao tráfico de drogas, o país continua sendo o maior fornecedor mundial de cocaína.
* AFP