A captura da pequena cidade de Kreminna pode anunciar o início da grande ofensiva da Rússia no Donbass, no leste da Ucrânia, com combates violentos na cidade vizinha de Rubizhne. Moscou reorientou sua campanha para esta área de mineração no leste da Ucrânia, o novo epicentro do conflito após a retirada das forças russas do norte e das proximidades de Kiev.
A cidade de Kreminna fica às margens do Rio Donets, cujo fluxo corre no sentido de Rubizhne, Severodonetsk e Lysychansk, localizadas na linha de frente e alvos de intensos bombardeios de ambos os lados. Rubizhne, com mais de 60 mil moradores antes da guerra, ficou sob o fogo de artilharia e morteiros das forças ucranianas na segunda-feira, constataram jornalistas da AFP.
As poderosas explosões podiam ser vistas e ouvidas de um aterro sanitário próximo a esta cidade mineradora, de onde emanavam colunas de fumaça preta e branca. Disparos de metralhadora também podiam ser ouvidos esporadicamente.
— Agora podemos dizer que as tropas russas começaram a batalha pelo Donbass, para a qual estão se preparando há muito tempo — declarou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, na segunda-feira (18) à noite.
A batalha por Kreminna
Com apenas 18 mil habitantes antes do conflito, Kreminna foi tomada pelas forças russas na madrugada de segunda-feira, após três dias de combates. Isso deixa o exército do Kremlin a apenas 50 quilômetros a nordeste de Kramatorsk, a capital da região do Donbass controlada por Kiev e um dos principais alvos de Moscou.
Essa bacia de mineração no leste da Ucrânia, onde estão localizadas as regiões de Luhansk e Donetsk, esteve parcialmente controlada pelos separatistas pró-russos desde 2014, quando começou uma guerra entre esses rebeldes e o governo de Kiev.
— Os combates duraram três dias e a Rússia usou um grande número de veículos blindados para atacar a cidade — disse o chefe da administração militar de Kreminna, Oleksandr Dunets, à Rádio Donbass.
— Os combates continuam na periferia — acrescentou.
— Nossos defensores recuaram para novas posições — disse o governador da região de Lugansk, Sergii Gaidai, acusando as forças russas de matar quatro civis que tentavam fugir da pequena cidade.
Em Novodruzhesk, a 12 quilômetros de Kreminna, Victor Pasipko, um mineiro aposentado, tenta reparar um cabo cortado em uma torre elétrica. Do alto, ele aponta dois buracos recém-abertos no chão.
— Olhe para essas duas crateras, acho que este cabo foi danificado por estilhaços — diz o homem, de 68 anos, à AFP.
Outra cavidade profunda também desfigurou o jardim de Nadia, 65 anos, que mora com o marido de 70, Serguei. Uma bomba explodiu seu carro azul em 13 de abril. O veículo agora está de cabeça para baixo em cima de uma pilha de escombros.
— Estamos sendo bombardeados de todos os lados. É um milagre que ainda estejamos vivos— diz Nadia, com a voz trêmula.
— Ficamos deitados no chão e esperando. Desde 24 de fevereiro dormimos no porão. Não há mais água, eletricidade, nada. Não temos mais dinheiro, nem gasolina, não podemos sair — acrescenta.
Um pouco mais adiante, uma mulher mostra uma cabana completamente destruída. Um tanque ucraniano ocupou o jardim para se camuflar. E logo depois que ele saiu, foi bombardeado pelos russos, conta. Enquanto fala, um morteiro russo decola de uma floresta próxima. Segundos depois, uma coluna de fumaça branca aparece em Rubizhne, seguida de uma explosão.
Cerca de 15 quilômetros a leste de Rubizhne, os russos passaram a noite atacando posições ucranianas em uma floresta ao redor da pequena cidade de Yampil. De manhã, dezenas de moradores deixaram a cidade de ônibus ou em seus carros particulares.
— Ontem à noite dormi apenas 15 minutos — disse Mikhailo à AFP.
— Houve tiroteio da floresta. Da esquerda, da direita: ninguém sabe o que esperar — lamenta o homem de 27 anos, cuja esposa foi evacuada pela manhã.
A Ucrânia reforçou suas defesas nos últimos dias. Em Yampil e na cidade vizinha de Liman, jornalistas da AFP viram vários veículos de infantaria, transportadores de tropas e reboques de artilharia. Os postos de controle rodoviários foram reforçados no caminho para Kramatorsk, com blocos de concreto e montes de terra.