No porão de sua livraria em Lviv, no oeste da Ucrânia, Romana Iaremyn exibe centenas de livros guardados quase até o teto, recuperados de áreas devastadas pelos combates com o Exército russo.
Embrulhados em embalagens brancas, os exemplares foram recuperados em Kharkiv, a grande cidade do nordeste, parcialmente cercada e bombardeada diariamente pelas forças russas.
Armazenados no que antes era uma sala de leitura infantil, os livros são apenas uma fração do que a editora conseguiu salvar dos bombardeios.
— Os funcionários do nosso armazém tentaram retirar pelo menos parte dos livros. Eles encheram um caminhão, e foi tudo levado por uma empresa postal — contou Iaremyn, de 27 anos.
Começaram com as publicações mais recentes e populares, principalmente livros infantis. Lviv, uma grande cidade no oeste da Ucrânia, está relativamente a salvo dos combates desde o início da invasão russa há dois meses, com exceção de alguns ataques aéreos mortais.
Milhares de pessoas, principalmente mulheres e crianças, fugiram para Lviv, ou atravessaram a cidade para chegar à Europa desde o início dos combates.
— Não sei como meus colegas fizeram para permanecer em Kharkiv. Os que fugiram e os que estão comigo dizem ter a impressão de que a cidade foi arrasada — afirmou Romana.
Autores na linha de frente
Iaremyn disse que a livraria reabriu um dia após a invasão, oferecendo abrigo no porão quando as sirenes de ataque aéreo disparavam e faziam sessões de leitura com crianças deslocadas.
Durante a primeira onda de chegadas, pais que haviam saído de casa com quase nada apareceram, em busca de contos de fadas para distrair seus filhos nos bunkers. Alguns compraram Polinka, a história de uma menina e de seu avô publicada pouco antes da invasão e escrita por um homem agora na linha de frente.
— Ele queria deixar algo para sua neta — explicou ela.
Das prateleiras da seção para adultos, Iaremyn pegou uma coleção de ensaios sobre mulheres ucranianas esquecidas pela história. Seu autor também está lutando contra os russos, disse.
— Muitos dos nossos autores estão agora no Exército — comentou.
Com as sirenes em Lviv anunciando o fim de um alarme matinal de ataque aéreo, os baristas voltam para seus cafés antes do próximo alerta.
Em um dia ensolarado de céu azul, as muitas livrarias da cidade estão abertas. Além disso, em um túnel de pedestres sob uma rodovia no centro da cidade, várias barracas vendem traduções de clássicos como 1984, de George Orwell, ou até mangás.
Perto do Museu Arsenal Real, uma pomba pousa na cabeça de uma estátua de Ivan Fyodorov, um impressor do século XVI de Moscou e enterrado em Lviv. A seus pés, quando não chove, e não há sirenes, alguns vendedores de livros aguardam clientes.
Vestindo um casaco azul claro e um gorro de lã, Iryna, de 48 anos, sentou-se perto de livros de história e literatura para vender, ou alugar. O aluguel de livros costumava ser popular entre as gerações mais velhas, contou.
Iryna, que não deu seu sobrenome, disse que parou de trabalhar por mais de um mês após o início da guerra. Quando voltou à praça de paralelepípedos no início de abril, muitos pais foram procurar livros para seus filhos.
— Eu dei vários a eles, porque as crianças querem ler — afirmou.