A justiça francesa emitiu uma ordem de prisão internacional contra Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan, no âmbito de uma investigação por abuso de bens sociais, lavagem de dinheiro e corrupção. O executivo franco-libanês-brasileiro vive em Beirute desde sua fuga cinematográfica do Japão em 2019.
A ordem de detenção internacional, que foi emitida na quinta-feira (21), é uma mensagem contundente para as autoridades libanesas, que nunca autorizam a extradição de seus cidadãos e proibiram a saída de Ghosn do país. Se a determinação for executada, Ghosn será apresentado diretamente a um juiz de instrução em Nanterre, na região de Paris, que o notificará sobre a investigação.
A justiça francesa investiga pagamentos de quase 15 milhões de euros (US$ 16,3 milhões) considerados suspeitos entre a aliança Renault-Nissan e a distribuidora da montadora francesa em Omã, a Suhail Bahwan Automobiles (SBA), informou à AFP o Ministério Público de Nanterre.
O juiz de instrução de Nanterre emitiu outras quatro ordens de prisão internacionais, que além de Ghosn afetam o fundador da SBA, seus dois filhos e o atual presidente da empresa, informaram À AFP duas fontes próximas ao caso. A justiça os acusa de lavagem de dinheiro de corrupção.
Além disso, Ghosn é acusado de obter benefício pessoal de um acordo de patrocínio entre a marca Renault e o Palácio de Versalhes, ao organizar festas particulares, o que ele nega.
"Surpreendente"
— Esta ordem é muito surpreendente porque o juiz de instrução e o promotor de Nanterre sabem perfeitamente que Carlos Ghosn, que sempre cooperou com a justiça, tem uma proibição judicial de abandonar o território libanês — afirmou Jean Tamalet, um dos advogados do ex-CEO da Nissan, que trabalha para o escritório King and Spalding.
O executivo é objeto de uma ordem de prisão da Interpol e não pode sair do Líbano desde que fugiu do Japão escondido em uma caixa de equipamento de áudio. Ghosn justificou a fuga alegando que pretendia "escapar da injustiça" e denunciou um "complô" das autoridades japonesas. Como parte da investigação, os magistrados de Nanterre viajaram duas vezes a Beirute.
Em uma entrevista concedida ao jornal Le Parisien em fevereiro, Ghosn afirmou que desejava retornar à França.
— No momento não posso voltar — declarou Ghosn, em referência à ordem de prisão da Interpol. — Eu sou francês, fui educado na França, tenho raízes muito profundas. A França ainda está lá, os governos passam. Tenho certeza de que um dia poderei voltar à França.
Ele também denunciou o que chamou de "punhalada mortal do governo francês e do conselho de administração da Renault", a montadora, que é uma das partes civis do caso.