As Forças Armadas de Mianmar lançaram uma forte repressão à população muçulmana rohingya do país em 2017, expulsando cerca de 740.000 para o vizinho Bangladesh.
Nesta segunda-feira(21), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, deve anunciar oficialmente a decisão do governo de considerar a repressão como genocídio.
Seguem os principais momentos da crise:
- Operações militares -
Em 25 de agosto de 2017, militantes rohingyas realizaram ataques coordenados a postos policiais no estado de Rakhine, em Mianmar, matando pelo menos dez policiais.
Os militares respondem com operações nas aldeias rohingyas, supostamente para expulsar os insurgentes.
Foram reportados 400 rebeldes mortos, mas os opositores dizem que a maioria é civil.
A ONU diz que pelo menos 1.000 pessoas perderam a vida nas primeiras duas semanas de operações militares.
- Êxodo de refugiados -
Em 5 de setembro, mais de 120.000 rohingyas haviam fugido para Bangladesh, lotando seus campos de refugiados precários.
Já existem pelo menos 200.000 rohingyas no país de ondas anteriores de violência.
- Suu Kyi rompe o silêncio -
Soldados são acusados de saquear as casas dos rohingyas e alguns líderes mundiais alegam "limpeza étnica".
Em sua primeira declaração sobre a crise, a líder civil de Mianmar e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, promete em 19 de setembro responsabilizar os violadores de direitos humanos, mas se recusa a culpar os militares.
- Possível "genocídio" -
Em 23 de novembro, Bangladesh e Mianmar concordam em começar a repatriar refugiados. Mas o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados diz que não estão reunidas as condições necessárias para o seu regresso em segurança e que o processo é interrompido.
O chefe de direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad Al Hussein, alerta em 5 de dezembro sobre possíveis "elementos de genocídio" e pede uma investigação internacional.
- Tribunais e sanções -
Em 25 de agosto de 2018, dezenas de milhares de refugiados rohingyas realizaram protestos para marcar o primeiro aniversário de seu êxodo.
Investigadores da ONU pedem que o chefe do exército de Mianmar e cinco outros altos oficiais militares sejam levados à justiça por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Em novembro, uma tentativa de repatriar 2.260 rohingyas falha, pois eles se recusam a sair sem garantias de segurança.
- Sanções dos EUA -
Em 16 de julho de 2019, Washington anuncia sanções contra o chefe do Exército de Mianmar e três outros oficiais militares de alto escalão.
Cerca de 3.500 refugiados rohingyas podem voltar para casa, mas nenhum aparece para fazer a viagem em 22 de agosto.
- Aumentam os desafios legais -
Em 11 de novembro, a Gâmbia entrou com uma ação perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) acusando Mianmar de genocídio pelo tratamento dado aos rohingyas.
Na mesma semana, um terceiro caso é aberto por grupos de direitos na Argentina sob o princípio da jurisdição universal.
- Suu Kyi no tribunal -
Em 10 de dezembro, a Gâmbia leva seu caso à CIJ com Suu Kyi liderando pessoalmente a defesa de Mianmar. Ela refuta as acusações de genocídio, negando as alegações "enganosas e incompletas" e insistindo que Mianmar enfrenta um "conflito armado interno".
Ela admite que os militares podem ter usado força excessiva. Em sua sentença de 23 de janeiro de 2020, a CIJ ordena que Mianmar tome medidas urgentes para prevenir o suposto genocídio e denuncie dentro de quatro meses.
- Jurisdição -
Em fevereiro de 2021, a equipe jurídica de Mianmar - menos Suu Kyi, que está em prisão domiciliar desde o golpe militar - argumenta que o caso não é da jurisdição do tribunal e deve ser rejeitado.
A CIJ deve agora decidir se há competência para prosseguir.
* AFP