Tropas russas desembarcaram nesta quarta-feira (2) em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, no leste do país, e anunciaram que tomaram o controle de Kherson, ao sul, no sétimo dia da invasão ordenada por Vladimir Putin, que foi chamado por Joe Biden de "ditador" e que vê seu país como alvo de fortes sanções por parte do Ocidente.
"Tropas aéreas russas desembarcaram em Kharkiv e atacaram um hospital", informou o exército ucraniano em um comunicado divulgado no Telegram. "Há um combate em curso entre os invasores e os ucranianos", acrescenta a nota.
A cidade do leste do país, de 1,4 milhão de habitantes, próxima da fronteira e com uma grande população de língua russa, foi alvo de bombardeios na terça-feira (1º) que deixaram vítimas civis, no que o presidente ucraniano Volodimir Zelensky descreveu como "crimes de guerra". O número de mortos na cidade chega a 25 nesta terça-feira.
— Praticamente não restam áreas em Kharkiv que não foram atingidas por projéteis de artilharia — afirmou um assessor do ministério do Interior, Anton Gerashchenko.
No sul, o exército russo reivindicou a tomada de Kherson, cidade de 290 mil habitantes na foz do Rio Dnieper, no Mar Negro, que já estava cercada.
A ofensiva, que desde o início provocou centenas de vítimas civis, provocou uma onda de sanções contra a Rússia em todas as frentes — financeira, esportiva, cultural ou empresarial —, o que abalou a economia do país, mas não provocou o recuo do presidente Putin.
— Um ditador russo, que invade um país estrangeiro, tem custos para todo o mundo — afirmou o presidente americano Joe Biden em seu primeiro discurso sobre o Estado da União, que abordou o conflito na Ucrânia, na noite de terça.
O presidente democrata afirmou que Putin errou ao subestimar a resposta do Ocidente à invasão e que agora "está mais isolado do que nunca esteve". Também anunciou que proibirá aviões russos no espaço aéreo americano e a criação de uma unidade especial para investigar os oligarcas russos, que segundo ele "ficarão sem seus iates, apartamentos de luxo e aviões privados".
Apesar das críticas ao que chamou de agressão "premeditada e totalmente não provocada", Biden insistiu que não enviará tropas à Ucrânia.
Temor em Kiev
Na capital ucraniana, Kiev, um ataque na terça-feira atingiu a torre de televisão e deixou cinco mortos e cinco feridos. As autoridades locais temem uma grande ofensiva após a divulgação de imagens de satélites de um comboio russo de mais de 60 quilômetros comprimento ao norte da cidade.
O presidente Zelensky acusou Moscou de querer "apagar" seu país e sua história.
— Eles têm a ordem de apagar nossa história, apagar nosso país, apagar todos nós — afirmou em um vídeo, no qual pediu aos países que não permaneçam neutros no conflito.
Também fez um apelo aos judeus do mundo para que "não permaneçam em silêncio", após o ataque russo de terça-feira contra a torre de televisão de Kiev, construída no local de um massacre do Holocausto.
— Estou falando agora aos judeus do mundo inteiro. Não veem o que está acontecendo? É por isto que é muito importante que os judeus do mundo inteiro não permaneçam em silêncio agora — afirmou Zelensky.
O presidente ucraniano reclamou que, durante a era soviética, as autoridades construíram a torre de televisão e um complexo esportivo em um "local especial da Europa, um lugar de oração e memória".
Na ravina de Babi Yar foram massacrados 30 mil judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
— O nazismo nasce do silêncio. Então saiam e gritem sobre os assassinatos de civis. Gritem sobre os assassinatos de ucranianos — afirmou Zelensky.
A imprensa ucraniana informou novas explosões durante a noite na capital e em Bila Tserkva, 80 quilômetros ao sul. Além disso, o serviço de emergências informou sobre um bombardeio em áreas residenciais de Yitomir (266 mil habitantes), ao oeste de Kiev, com dois mortos e três feridos.
No sul, além de reivindicar o controle de Kherson, o exército russo afirmou que na terça-feira conseguiu estabelecer contato entre as tropas que avançam da anexada península da Crimeia e as milícias dos separatistas pró-Rússia da região de Donbass, uma informação que não foi possível confirmar, mas que representaria uma conquista estratégica para suas forças.
No meio dos dois territórios resiste a cidade portuária de Mariupol, que ficou sem energia elétrica após bombardeios que, segundo o prefeito, deixaram mais de cem feridos.
Para Kiev, um novo perigo se aproxima do norte, em Belarus, aliada de Moscou, que ordenou a mobilização de tropas adicionais na fronteira com a Ucrânia. Segundo o ministério da Defesa ucraniano, estas tropas poderia "respaldar no futuro os invasores russos".
A Ucrânia denunciou a Rússia na Corte Internacional de Justiça, que convocou audiências em 7 e 8 de março para estudar as alegações de Kiev de supostos crimes de guerra. De acordo com as autoridades ucranianas, mais de 350 civis já morreram no conflito, incluindo 14 crianças.
Mais de 670 mil pessoas fugiram e um milhão de moradores viraram deslocados dentro da Ucrânia, segundo a ONU, que pediu a arrecadação de US$ 1,7 bilhão de forma urgente por considerar que nos próximos meses 16 milhões de pessoas precisarão de ajuda na Ucrânia e nos países vizinhos.