As organizações de ajuda humanitária estão se esforçando para chegar a cidades sitiadas na Ucrânia, onde milhares de pessoas estão presas e precisam urgentemente de assistência, disseram autoridades do Programa Mundial de Alimentos (PMA) neste sábado (19).
— O desafio é chegar às cidades que estão cercadas ou prestes a ser cercadas — disse à AFP Jakob Kern, coordenador de emergências do PMA para a crise na Ucrânia. — A situação é catastrófica — enfatizou sobre a invasão da Rússia.
A falta de acesso humanitário torna praticamente impossível entregar ajuda alimentar de emergência ao porto cercado de Mariupol, sudeste, e às cidades de Kharkiv e Sumy, no nordeste. É uma tática de "cerco" que é "inaceitável no século XXI", disse Kern.
O PMA, uma agência das Nações Unidas com sede em Roma, teve que começar a encher os armazéns ucranianos "do zero". Substituir as cadeias de suprimentos destruídas pelos combates é uma "tarefa gigantesca".
A agência espera alcançar 3,1 milhões de pessoas na Ucrânia, mas os esforços para levar produtos como macarrão, arroz e carne enlatada são prejudicados pelas dificuldades em encontrar voluntários para o transporte, explicou o representante.
— Quanto mais nos aproximamos dessas cidades, mais eles se preocupam com sua segurança. E isso significa que não temos a capacidade de alcançar as pessoas em Mariupol, Sumy e Kharkiv, cidades que estão quase ou completamente cercadas no caso de Mariupol — declarou Kern.
Mais de 3,25 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia, mas muitas continuam presas, incluindo "centenas de milhares de mulheres e crianças", enfatizou.
— Não podem sair e nós não podemos chegar até elas.
Graves consequências
Kern, que trabalhou para o PMA por três anos na guerra da Síria, explicou que a tática de cerco usada na Ucrânia é semelhante, mas com consequências mais graves devido ao tamanho maior das cidades cercadas.
— Há dois dias, um comboio de alguns caminhões conseguiu entrar em Sumy com comida para cerca de 3.000 pessoas por alguns dias. Mas estas são cidades grandes e é necessário acesso regular, em escala muito maior — disse ele.
— Seria necessário quase um comboio diário para fornecer alimentos básicos a uma população de meio milhão ou um milhão de pessoas. Isso implica estabelecer um corredor humanitário permanente com essas cidades — explicou.
No entanto, na Ucrânia, como na Síria, mesmo uma pequena ajuda pode sustentar psicologicamente aqueles que estão presos em condições terríveis, porque "para as pessoas cercadas, ver que não são esquecidas é muito importante", sublinhou o coordenador.
A Ucrânia é historicamente um celeiro de trigo para o mundo. Antes da guerra, o PMA comprava quase metade de suas necessidades de trigo lá.
Atualmente - com o fechamento dos portos ucranianos e o congelamento dos contratos de compra de trigo russos devido a sanções - 13,5 milhões de toneladas de trigo e 16 milhões de toneladas de milho estão bloqueadas na Rússia e na Ucrânia.
O aumento dos custos de alimentos e energia, exacerbado pela invasão russa da Ucrânia, aumentou o custo das operações internacionais do PMA em US$ 70 milhões por mês, e a agência está buscando doações urgentemente.