Mercados e supermercados, carrinhos de compras cheios e prateleiras ficando vazias... Hong Kong reviveu, nesta quarta-feira (9), cenas dos estágios iniciais da pandemia da covid-19, que agora provoca níveis de contágio e restrições nunca vistos na cidade.
Até então, este centro de negócios vinha conseguindo manter baixos os níveis de infecção, graças a uma restritiva estratégia de "covid zero", similar à adotada por Pequim, com confinamentos focalizados, prolongadas medidas de distanciamento social e quarentenas obrigatórias para viajantes internacionais.
A entrada da variante Ômicron na cidade em dezembro causou, porém, um grande surto que levou a um recorde de 1.161 novos casos diários nas últimas 24 horas, em uma população de 7,5 milhões de habitantes.
Na terça-feira (8), as autoridades anunciaram as restrições mais rigorosas para o território desde o início da pandemia, com reuniões limitadas a duas pessoas em espaços públicos, e a duas famílias, em casas, além da adoção de um certificado de vacinação para ter acesso a restaurantes, mercados e outros locais.
A população reagiu com pânico a esses anúncios, correndo para os supermercados para estocar alimentos, temendo sua escassez.
— Parece que o governo não está nem um pouco preparado, e nós, cidadãos comuns, temos que nos preocupar apenas com a gente mesmo — desabafou uma mulher de sobrenome Siu, de 42 anos, em entrevista à AFP.
Ela foi uma das que madrugaram no mercado para comprar produtos frescos, que a cidade importa, em sua maioria, da China continental.
Esta semana, um caminhoneiro transfronteiriço testou positivo para a covid-19, causando uma interrupção temporária no abastecimento. Desde então, a oferta de vegetais registrou queda de um terço, e os preços dispararam nos supermercados. Muitos já estão com as prateleiras praticamente vazias.
O pânico também chegou aos salões de beleza, um dos negócios atingidos pelas novas restrições. Cinco estabelecimentos locais consultados no centro de Hong Kong estavam com a agenda cheia.
— Dizem que o fechamento é temporário, mas quem sabe quando vai reabrir? (...) Parece que estamos de volta ao início da pandemia. É muito desanimador — disse um homem de sobrenome Cheung, enquanto esperava pelo corte de cabelo.
Diferentemente da maioria dos países, cujos governos optam por tentar conviver com o vírus, as autoridades de Hong Kong continuam defendendo a estratégia de "covid zero", sobretudo, diante dos baixos índices de vacinação da população idosa.
Muitos cidadãos manifestaram sua irritação nas redes sociais.
"Vocês tentaram e falharam. Quando vocês vão parar de manter os cidadãos desta cidade como reféns?", escreveu um morador em uma carta que "viralizou" online.