O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quinta-feira, 24, uma nova leva de sanções à Rússia, pela invasão da Ucrânia na última madrugada. "Por semanas nós vínhamos alertados que isso podia acontecer", disse Biden. "Putin é o agressor. Putin escolheu essa guerra. E agora ele e seu país vão sofrer as consequências", disse em discurso na Casa Branca.
Na terça-feira, após Vladimir Putin reconhecer dois territórios na Ucrânia como estados independentes, Biden havia anunciado o que chamou de "primeira parcela" da resposta americana ao Kremlin, com sanções a dois bancos russos, membros da oligarquia, além de vetar o acesso russo ao financiamento de sua dívida soberana. Hoje, o americano ampliou as sanções.
As sanções de hoje atingem outros quatro bancos russos e adicionam novos nomes de membros da elite russa próximos ao Kremlin ao bloqueio dos EUA. Outros bancos alvo do bloqueio americano que somam US$ 1 trilhão em ativos.
"Projetamos propositadamente essas sanções para maximizar um efeito de longo prazo na Rússia e minimizar o impacto sobre os Estados Unidos e nossos aliados. Quero ser claro, os Estados Unidos não estão fazendo isso sozinhos. Durante meses, construímos uma coalizão de parceiros que representam bem mais da metade da economia global", afirmou Biden.
"Vamos limitar a capacidade da Rússia de fazer negócios em dólares, euros, libras. Vamos interromper a capacidade de financiamento e de crescimento das forças armadas russas. Nós vamos prejudicar sua capacidade de competir na economia de alta tecnologia do século 21", prometeu Biden.
Durante o último mês, com a escalada na situação no leste europeu, a Casa Branca vem ameaçando a imposição de duras e assertivas sanções econômicas. As promessas, no entanto, não evitaram a invasão.
Desde a anexação da Crimeia, Putin vem preparando a economia do país para resistir à pressão econômica internacional. O líder russo acumulou reservas monetárias e diminuiu o uso de dólares, o que desafia a estratégia de europeus e americanos de tentar fazer o Kremlin pagar um preço alto pela ação na Ucrânia desta vez.
"Ninguém esperava que as sanções prevenissem isso de acontecer", justificou Biden hoje, ao ser questionado sobre a eficácia das sanções. "As sanções excedem qualquer coisa que já tenha sido feito. São sanções profundas. Vamos conversar daqui a um mês e pouco para ver se estão funcionando", disse Biden a jornalistas. Biden não respondeu a pergunta de jornalista da CNN americana sobre sancionar Putin diretamente.
"Alguns dos impactos de nossas ações virão com o tempo, à medida que esprememos o acesso dos russos a finanças e tecnologia para setores estratégicos de sua economia e a maior capacidade industrial nos próximos anos", afirmou Biden. Mas não deixou de dizer que a opção "está na mesa".
Biden firmou que não há planos de conversar com Putin no momento. Havia a possibilidade de uma cúpula entre os dois presidente após um encontro entre o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, nesta semana. Mas o encontro foi cancelado e a cúpula descartada.
Antes do discurso, Biden teve uma reunião virtual com os demais líderes que compõem o G-7. Aos americanos, ele prometeu que o país continuará a agir de maneira coordenada com os parceiros e disse que Putin será um pária no cenário internacional. "Qualquer nação que se oponha à agressão da Rússia contra a Ucrânia será manchada por associação", disse Biden.
Na quarta-feira, Washington impôs sanções à empresa encarregada de construir o gasoduto Nord Stream 2 da Rússia e, na terça-feira, sancionou duas grandes instituições financeiras russas e a dívida soberana russa, juntamente com alguns membros da elite russa e seus familiares.
O Reino Unido também divulgou novas medidas visando bancos, membros do círculo íntimo de Putin e bilionários. O primeiro-ministro Boris Johnson disse ao Parlamento que os líderes concordaram em trabalhar juntos para "maximizar o preço econômico" que Putin pagará.
Exclusão do Swift
As novas sanções, no entanto, não abarcam um pedido direto da Ucrânia. O presidente americano informou que, por enquanto, não pretende remover a Rússia do Swift, uma rede que conecta milhares de instituições financeiras em todo o mundo.
Segundo ele, a remoção não é a direção que o resto da Europa quer seguir neste momento. "As sanções que propusemos a todos os seus bancos são de igual importância, talvez com mais consequências do que o Swift", disse.
A remoção foi um pedido do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter mais cedo. A Ucrânia pede aos países ocidentais que imponham sanções mais fortes do que as que haviam sido anunciadas até então. A embaixada ucraniana no Reino Unido reforçou o pedido nesta quarta-feira antes do anúncio de Johnson das novas sanções.
Na Europa, líderes já disseram que não pretendem remover o país do sistema no momento, mas também não descartam a opção. Os líderes da União Europeia debaterão hoje a exclusão da Rússia dessa plataforma sediada na Bélgica, que conecta cerca de 1.000 instituições financeiras e funciona como um sistema de mensagens para reportar transações, tornando-se um pilar do sistema financeiro internacional.
A remoção de entidades russas da Swift, como aconteceu com algumas entidades iranianas como resultado das sanções europeias de 2012, significaria cortar seus laços financeiros no exterior, impedindo-os de receber moeda ou fazer transferências para suas transações comerciais, mas ao mesmo tempo afetaria europeus, cujos bancos estão altamente expostos à economia russa. A última vez que se considerou excluir a Rússia da plataforma foi em 2014.
Não planeja enviar tropas
Biden reafirmou durante a coletiva que os Estados Unidos não enviarão tropas à Ucrânia, mas disse que o país defenderá Kiev, "se necessário", sem fornecer mais detalhes. O presidente americano anunciou que está enviando mais tropas para a Polônia. "Essa agressão não pode passar sem resposta", assegurou Biden, dizendo que Putin se converterá em um "pária no cenário internacional".
"Amanhã, a Otan convocará uma cúpula. Estaremos lá para reunir os líderes de 30 nações aliadas e parceiros próximos para afirmar nossa solidariedade e mapear os próximos passos que daremos para fortalecer ainda mais todos os aspectos de nossa aliança", disse Biden.
O presidente garantiu que os Estados Unidos estavam preparados caso sofressem ataques cibernéticos vindos da Rússia. "Durante meses, trabalhamos em estreita colaboração com o setor privado para fortalecer suas defesas cibernéticas e aprimorar nossa capacidade de responder aos ciberataques russos também."
As autoridades americanas temem que, com a piora da situação, empresas, bancos e infraestruturas críticas do país sofram ataques. A Ucrânia relatou problemas cibernéticos e instabilidades em sites do governo horas antes da completa invasão russa desta quinta-feira.
Tecnologia
O Departamento do Comércio publicou comunicado nesta quinta, no qual comenta as sanções impostas à Rússia pelos Estados Unidos. Na nota, o órgão americano diz que foram impostos "uma série de controles rígidos sobre as exportações", os quais restringirão "severamente" o acesso do país a tecnologias e outros itens necessários para sustentar suas capacidades militares.
O governo americano diz que as sanções têm como alvo primário os setores de defesa, aeroespacial e marítimo da Rússia, restringindo o acesso do país a tecnologias vitais e atrofiando setores importantes de sua base industrial. As medidas ainda limitam as "ambições estratégicas" do país para exercer influência no cenário mundial, diz o Departamento do Comércio.
A nota diz também que, se necessário, o governo dos EUA pode responder nos próximos dias com mais medidas de sanções na frente econômica contra a Rússia. (Com agências internacionais)