A África, que já recebe resíduos de produtos tóxicos de outros países, quer agora evitar se tornar também "o lixão do mundo" de resíduos plásticos, objetivo do continente na Assembleia da ONU para o Meio Ambiente que começa na segunda-feira (28), em Nairóbi.
De Antananarivo a Dacar, passando por Nairóbi, ou Conacri, as capitais africanas são maculadas por enormes lixões a céu aberto. Neles, resíduos plásticos somam milhares de toneladas, gerando odores pestilentos, fumaça e partículas tóxicas.
Colocando suas vidas e saúde em risco, homens, mulheres e crianças, das camadas mais pobres da população, vão a esses lixões em busca de algum meio de sobrevivência.
Os resíduos plásticos também poluem oceanos e áreas rurais, ameaçando a fauna, a flora e o homem.
Devido à precária coleta de resíduos e à falta de fábricas de reciclagem, "os resíduos de plástico estão aumentando na África", informa um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Cerca de 300 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidos a cada ano no mundo. Deste total, 11 milhões acabam nos oceanos.
Segundo a ONU, a "falta de estatísticas" para a África é "um grande obstáculo".
"Se nada for feito, em poucos anos a África será um verdadeiro depósito de lixo de sacolas e resíduos plásticos", alerta o diretor da ONG Rede Nigeriana para Água e Saneamento, Ousmane Danbadji.
- Lixo dos industrializados -
A decisão da China em 2018 de proibir a importação de resíduos plásticos, seguida por outros países, gera temores de que os países ricos recorram ao continente africano para descartar seu lixo.
Eles já fazem isso para outros produtos e materiais perigosos, como baterias e componentes elétricos e eletrônicos usados, especialmente em Gana e Nigéria.
"O risco é grande de que todo lixo dos países industrializados acabe aqui na África", teme Yves Ikobo, da ONG congolesa Planeta Verde RDC.
Em Nairóbi, os países africanos tentarão encontrar uma posição comum sobre a proibição da importação de resíduos plásticos para o continente e, assim, chegar a um acordo internacional contra a poluição plástica.
Muitos países africanos adotaram legislações que proíbe o plástico, mas esses regulamentos não são implementados, ou são mal aplicados.
"Há uma falta de compromisso por parte de muitos Estados da África", diz John Gakwavu, diretor de uma ONG ruandesa para a defesa do meio ambiente.
Ousmane Danbadji pensa o mesmo: "não podemos fazer nada contra a proliferação (do lixo plástico), porque os políticos não estão realmente comprometidos com essa luta".
Isso se deve ao impacto econômico e social do setor de plásticos, que gera empregos em vários países. Na África do Sul, por exemplo, a potência do continente, emprega 65.000 pessoas.
A ministra do Meio Ambiente da África do Sul, Barbara Creecy, disse que qualquer acordo internacional deve levar em conta as "circunstâncias nacionais".
"Não acho que os países africanos adotarão uma posição exatamente comum" em Nairóbi, avalia Nhlanhla Sibisi, do Greenpeace África, com sede em Joanesburgo.
"Países como a África do Sul, que já tem uma indústria de plásticos bem estabelecida", vão insistir na "criação de empregos", antecipa.
É um argumento de peso em um país onde 65% dos jovens estão desempregados.
"Será muito difícil para os nossos países formar um bloco para proibir a entrada de resíduos", considera Yves Ikobo, porque, "para eles, trata-se também da entrada de capitais".
Para sanear as carências das autoridades públicas e enquanto aguardam um acordo internacional, que levará tempo, os cidadãos africanos se mobilizam com seus frágeis meios para tentarem tornar suas cidades, praias e campos mais limpos, recolhendo os plásticos onipresentes, sobretudo, em Libreville e Abidjan.
Nesta cidade, em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e uma empresa privada colombiana, uma fábrica de tijolos plásticos abriu suas portas em 2020 para construir centenas de escolas na Costa do Marfim.
* AFP