Da disseminação de teorias da conspiração a ameaças de morte: o aplicativo de mensagens criptografadas Telegram, particularmente popular entre os movimentos antivacina, está na mira das autoridades alemãs, que o acusam de passividade diante da disseminação de discursos de ódio.
Os opositores da vacinação contra a covid-19 estão se mobilizando há várias semanas na Alemanha, onde se reúnem regularmente para protestos, às vezes culminando em incidentes com as forças de ordem.
É muito provável que as tensões atinjam outro nível após a iniciativa de vacinação obrigatória, apoiada pelo chanceler Olaf Scholz, mas que divide a sociedade, apresentada ao Bundestag (Parlamento) na tarde desta quarta-feira (26). Nesse contexto, os "disseminadores de ódio" são alvos do governo e, em particular, o Telegram.
— Nossa legislação também se aplica ao Telegram — sob pena de multas milionárias, alertou o ministro da Justiça, Marco Buschmann.
Já a ministra do Interior, Nancy Faeser, quer apresentar antes da Páscoa um plano que obrigue esta plataforma digital a eliminar mensagens de ódio, bem como a identificar os seus autores.
Alguns grupos de discussão antivacina na rede atraem até 200 mil pessoas, de acordo com uma contagem da AFP. Na ausência de cooperação, Faeser não descarta a proibição total deste aplicativo na Alemanha.
Mas antes de chegar a isso, "todas as opções devem ter sido esgotadas", disse, reconhecendo que a cooperação europeia é necessária nesta questão sensível.
Em meados de dezembro, a polícia alemã realizou uma batida em Dresden (oeste), onde apreendeu armas após a divulgação de ameaças de morte contra o ministro-presidente do Land, identificadas em um grupo do Telegram. Desde então, o chanceler alemão Olaf Scholz prometeu liderar uma "luta implacável" contra uma "minoria de extremistas".
Cerco às redes sociais
A Alemanha promulgou uma lei controversa em 2017 que fortalece seu arsenal contra ameaças lançadas na internet, exigindo que redes sociais, como Facebook e Twitter, removam conteúdo criminoso e o denunciem à polícia para possíveis indiciamentos.
Assim, o Facebook anunciou em setembro a eliminação de várias contas, páginas e grupos ligados ao grupo de "livres pensadores" na Alemanha, hostil às medidas de combate à covid-19.
— Como consequência do fato de que as grandes plataformas não permitem mais conteúdo racista, antissemitista ou de extrema-direita, como a negação do Holocausto, aqueles que o divulgam buscam novas ferramentas, na Alemanha é o Telegram — disse Simone Rafael, gerente digital da Fundação Amadeu Antonio para a luta contra o racismo.
Enquanto o Facebook colabora com as autoridades respeitando a lei, não é o caso do Telegram, segundo esta pesquisadora, que aponta que a maioria de seus usuários não está ligada a movimentos antivacinas.
Numerosos pedidos da Polícia Criminal Federal Alemã (BKA) para remover conteúdo nesta plataforma foram deixados no limbo. Há também a possibilidade de exigir que o Google ou a Apple o removam de suas listas de downloads, mas isso não afetaria os usuários que já possuem o aplicativo.
Para Rafael, a única maneira de superar os obstáculos é bani-lo completamente na Alemanha, que, assim, se tornaria o primeiro país do Ocidente a tomar tal medida radical contra o serviço de mensagens, criado em 2013 pelos irmãos Nikolai e Pavel Durov, dois opositores do Kremlin, cujo objetivo era evitar o controle pelo serviço secreto russo. Já existem proibições e regulamentos que afetam o Telegram na China, Índia e Rússia.