Milhares de moradores da região do Tigré deportados da Arábia Saudita foram detidos, maltratados, ou sofreram desaparecimento forçado depois de chegarem à Etiópia - denunciou a ONG Human Rights Watch (HRW) em um relatório divulgado nesta quarta-feira (5).
A perseguição étnica e os maus-tratos aos repatriados ocorreram no momento em que o governo federal etíope lutava contra os rebeldes do Tigré em uma guerra deflagrada há um ano. O conflito deixou milhares de mortos e levou muitas outras pessoas para a fome.
Os moradores do Tigré repatriados da Arábia Saudita, para onde centenas de milhares de etíopes emigraram em busca de trabalho ao longo dos anos, foram retidos em Addis Abeba, a capital da Etiópia, e em outros lugares, de acordo com HRW.
Outros foram impedidos de retornar para o Tigré, região mais ao norte da Etiópia, após serem identificados em controles de estradas, ou nos aeroportos, e foram transferidos para centros de detenção, de acordo com o relatório.
"As autoridades etíopes perseguem as pessoas do Tigré deportadas da Arábia Saudita, detendo-as injustamente e fazendo-as desaparecer à força", denunciou Nadia Hardman, pesquisadora sobre direitos de refugiados e migrantes da HRW.
A ONG entrevistou tigrenses deportados da Arábia Saudita para a Etiópia entre dezembro de 2020 e setembro de 2021, período em que dezenas de milhares deles foram repatriados no âmbito de um acordo entre os dois países.
Alguns dos deportados detidos após sua chegada à Etiópia relataram abusos físicos, como espancamentos com tubos de borracha, ou pedaços de madeira.
Outros foram acusados de conluio com a Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF), que governava o Tigré antes da guerra e que agora é considerada um grupo terrorista pelo governo etíope.
Dois deportados contaram à HRW que foram retirados pela polícias dos centros de migrantes, junto com outros homens, e levados de ônibus para as plantações de café. Foram forçados a trabalhar em condições deploráveis, sem pagamento e com pouca comida. Muitos tiveram o contato com a família negado e temiam que seus parentes pensassem que ainda estavam na Arábia Saudita.
"A detenção por parte das autoridades etíopes de milhares de moradores do Tigré deportados da Arábia Saudita sem informar suas famílias sobre sua prisão, ou paradeiro, equivale a um desaparecimento forçado, o que também viola o direito internacional", diz o relatório.
* AFP