O Chile começou, neste domingo (19), a ir às urnas para o segundo turno de uma eleição presidencial decisiva para mudar o rumo de seu futuro entre dois projetos antagônicos: o do advogado de extrema direita José Antonio Kast e o do deputado de esquerda Gabriel Boric.
Mais de 15 milhões de chilenos são esperados para votar, entre 8h e 18h (horários de Brasília). O voto não é obrigatório no país.
No primeiro turno, em 21 de novembro, a abstenção foi alta, passando de 50%. O vencedor toma posse em 11 de março de 2022, sucedendo a Sebastián Piñera.
Quem chegar ao Palácio de La Moneda estará quebrando precedentes. Desde o retorno da democracia, três décadas atrás, nenhum candidato que liderasse o primeiro turno perdia no segundo turno. Por outro lado, até agora, nenhum presidente foi eleito sem vencer na capital, Santiago, que Boric conquistou confortavelmente no primeiro turno.
Pesquisas de opinião dão vitória a Boric, mas divergem na vantagem, que pode ir de 5 a 14 pontos. Especialistas afirmam, no entanto, que as perspectivas são muito incertas e que o resultado será definido voto a voto, levando em conta a estreita margem entre os dois candidatos no primeiro turno: 2 pontos percentuais.
— A participação da população significará tudo — disse o cientista político da Universidade do Chile, Robert Funk.
Os dois candidatos não poderiam ser mais opostos polares. Kast, um devoto católico romano e pai de nove filhos, emergiu da margem direita depois de ter conquistado menos de 8% dos votos em 2017. O nome dele foi crescendo pouco a pouco nas pesquisas, desta vez com um discurso divisionista enfatizando valores familiares conservadores e jogando com os temores dos chilenos de que um aumento da migração, do Haiti e da Venezuela, está levando o crime ao país. Ele tem um histórico de ataques à comunidade LGBTQ do Chile e defendendo leis de aborto mais restritivas. Ele também acusou o presidente Sebastian Piñera, um colega conservador, de trair o legado econômico de General Augusto Pinochet, ex-líder militar do país. Irmão de Kast, Miguel foi um dos principais conselheiros de Pinochet.
Já Boric, caso vença o pleito, se tornaria o presidente mais jovem do Chile. Ele estava entre vários ativistas eleitos para o Congresso em 2014, após liderar protestos por educação de qualidade superior. Se eleito, disse ele, vai "enterrar" o neoliberal modelo econômico deixado por Pinochet e aumentar os impostos sobre os "super-ricos" para expandir os serviços sociais, combater a desigualdade e aumentar as proteções do ambiente.
Nos últimos dias, os dois candidatos tentaram fazer discursos mais ao centro. "Eu não sou um extremista" proclamou Kast na reta final da campanha, mesmo sendo perseguido por revelações de que seu pai, nascido na Alemanha, tinha sido um membro de carteirinha do partido nazista de Adolf Hitler.
Enquanto isso, Boric, que é apoiado por uma coalizão de partidos de esquerda que inclui o Partido Comunista do Chile, trouxe mais conselheiros centristas para sua equipe e prometeu que quaisquer mudanças seriam graduais e responsáveis do ponto de vista fiscal.
— Em ambos os lados, as pessoas estão votando por medo — disse Funk. — Nenhum lado está particularmente entusiasmado com seu candidato, mas estão votando por medo que, se Kast vencer, haverá uma regressão autoritária ou porque eles medo Boric é muito jovem, inexperiente e alinhado com os comunistas.
A votação será encerrada às 18h (horário local, também 18h no Brasil). Os resultados preliminares são esperados algumas horas depois. Quem vencer deverá encontrar muitos desafios pela frente. O próximo presidente, que assumirá em março de 2022, precisará lidar com a recuperação econômica pós-pandemia, a inflação e a implementação das regras da nova Constituição chilena, que começou a ser elaborada este ano e pode entrar em vigor em 2022.