As forças de segurança polonesas usaram gás lacrimogêneo, nesta terça-feira (16), contra migrantes que atiravam pedras na fronteira com Belarus, cujo presidente, Alexander Lukashenko, afirmou que deseja evitar qualquer "confronto".
O governo polonês calcula a presença de 3 mil a 4 mil migrantes, muitos deles curdos iraquianos, acampados ao longo da fronteira. Em meio a temperaturas glaciais, eles se encontram bloqueados entre a pressão das forças bielorrussas e a contenção dos soldados poloneses.
A União Europeia (UE) acusa Belarus de ter orquestrado o fluxo de migrantes em suas fronteiras com Polônia e Lituânia como uma forma de vingança pelas sanções impostas, o que é negado por Minsk e por sua aliada Moscou.
Desde a semana passada, a passagem de fronteira de Bruzgi-Kuznica, na região leste da UE, é cenário de um confronto, com centenas de migrantes aglomerados.
"Os migrantes atacaram nossos soldados e oficiais com pedras e estão tentando destruir a cerca e entrar na Polônia", afirmou o Ministério polonês da Defesa.
"Nossas forças usaram gás lacrimogêneo para sufocar a agressão dos migrantes", completou um comunicado do ministério.
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, afirmou nesta terça-feira que deseja evitar que a crise migratória se transforme em um confronto.
— O essencial agora é defender nosso país, nosso povo e evitar confrontos — declarou ele à agência estatal de notícias Belta.
As declarações foram feitas um dia depois de um telefonema de Lukashenko com a chanceler alemã, Angela Merkel. Ela foi a primeira líder ocidental a conversar com o presidente bielorrusso desde sua polêmica reeleição, em agosto de 2020. Lukashenko está no poder desde 1994.
De acordo com o gabinete de Merkel, os dois abordaram a ajuda humanitária para os migrantes, que incluem crianças.
— Compartilhamos a opinião de que ninguém deseja uma escalada, nem a UE nem Belarus — disse Lukashenko.
Ele também afirmou, no entanto, que tem um ponto de vista "diferente" do de Merkel sobre como os migrantes chegaram a Belarus: o Ocidente afirma que Minsk transportou-os até a fronteira, em retaliação às sanções.
Na segunda-feira (15), os ministros das Relações Exteriores da UE concordaram em ampliar as sanções contra o regime de Lukashenko, incluindo na lista pessoas, ou empresas, que estimularam sua passagem na fronteira leste do bloco.
O governo dos Estados Unidos também se comprometeu a ampliar as sanções contra Belarus.
Voo de repatriação
A embaixada do Iraque em Moscou anunciou o primeiro voo de repatriação de 200 imigrantes iraquianos na semana, mas apenas daqueles que desejarem viajar "voluntariamente".
Muitos afirmam que estão decididos a permanecer, apesar do acesso limitado a alimentos e a produtos básicos.
A UE pediu a interrupção dos voos para Belarus.
Ontem, a companhia aérea bielorrussa Belavia informou que sírios, iraquianos, afegãos e iemenitas estão proibidos de viajar de Dubai para Minsk. A Turquia impôs as mesmas restrições na semana passada.
Ao menos 11 migrantes morreram desde o início do grande fluxo para a região fronteiriça durante o verão (hemisfério norte, inverno no Brasil), de acordo com ONGs de ajuda humanitária.
Um deles, Ahmad al-Hassan, um sírio de 19 anos que se afogou perto da fronteira, foi sepultado na segunda-feira no cemitério da pequena comunidade muçulmana polonesa.