Os chanceleres dos Estados Unidos e da Rússia tentaram acalmar a tensão em sua primeira reunião desde a posse do presidente Joe Biden, nesta quarta-feira (19), declarando que estão dispostos a cooperar, embora tenham feito alertas que refletem o abismo existente entre os dois países.
A reunião de quase duas horas na capital da Islândia, à margem do Conselho Ártico, tinha como objetivo abrir o caminho para uma provável cúpula entres os presidentes americano, Biden, e russo, Vladimir Putin.
O experiente ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, elogiou o diálogo "construtivo" com o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.
A Rússia e os Estados Unidos "entendem a necessidade de pôr um fim ao clima nocivo que se formou nas relações entre Moscou e Washington nos últimos anos", afirmou Lavrov, citado pela agência russa RIA Novosti.
Apesar das inúmeras "divergências", "nossa visão é que se os líderes da Rússia e dos Estados Unidos puderem trabalhar cooperativamente" diante de desafios comuns", o mundo estará mais seguro", declarou Blinken no início da reunião a portas fechadas, pedindo uma relação "estável e previsível".
"Mas se a Rússia se comportar agressivamente contra nós, nossos parceiros ou nossos aliados, responderemos", advertiu Blinken.
Durante a reunião, o americano expressou sua "profunda preocupação" com o envio de tropas russas à Ucrânia e perto da fronteira com este país, com a saúde do oponente russo Alexei Navalny e com a "repressão às organizações da oposição".
Uma cúpula entre Joe Biden e Vladimir Putin pode ser realizada em breve, de acordo com Moscou e Washington, mas a data e o local ainda não foram oficialmente definidos. Talvez em junho, quando a cúpula do G7 e a reunião dos líderes da Otan também estão planejadas, que se acredita representem uma frente única anti-Moscou.
"Estamos prontos para falar sobre todos os tipos de tópicos, sem exceção, desde que o diálogo seja honesto e se baseie no respeito mútuo", respondeu Lavrov.
Diante da imprensa, antes de um cara a cara a portas fechadas, a conversa foi cortês, ao contrário do que aconteceu no primeiro encontro entre Blinken e o chefe da diplomacia chinesa em março no Alasca.
- Apaziguamento -
Mas antes do encontro presencial na Islândia, à margem do Conselho Ártico, que também começou nesta quarta-feira e reúne oito países da região (Estados Unidos, Rússia, Islândia, Canadá, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Noruega), Washington fez um gesto para aliviar a tensão.
Semanas depois de ameaçar aplicar sanções contra o polêmico gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha, a administração de Biden finalmente decidiu não sancionar a principal empresa envolvida no projeto, a Nord Stream AG, e seu diretor executivo.
Haverá sanções, mas contra outras entidades. Desta forma, o presidente americano quer se esquivar da raiva da Alemanha, que indiretamente favorece Moscou. A decisão causou descontentamento entre os republicanos, mas também do lado democrata.
Especificamente, essa decisão equivale a deixar o caminho livre para a realização desse gasoduto, que é mal visto pelos Estados Unidos.
"É melhor do que ler anúncios de novas sanções, (o fim das sanções) seria sem dúvida positivo", reagiu o Kremlin antes que Washington confirmasse a informação.
Desde que chegou à Casa Branca em janeiro, o presidente Biden tem sido muito firme diante da Rússia de Putin, a quem passou a chamar de "assassino", para marcar o rompimento com seu antecessor Donald Trump, acusado de ser tolerante com os Kremlin.
Moscou e Washington se acusaram mutuamente e impuseram sanções desde o início do mandato democrata. Mas, agora, os dois países dizem que estão buscando um apaziguamento.
Com esse objetivo, Biden e Putin querem realizar uma primeira cúpula em junho em um país europeu.
Nesse mesmo mês acontecerá a cúpula do G7 e a reunião dos líderes da Otan, que deve mostrar uma frente unida anti-Moscou.
Blinken confirmou na terça-feira que espera que o encontro dos presidentes ocorra "nas próximas semanas".
* AFP